O QUE ELES ESCONDEM

terça-feira, 4 de abril de 2017

SALÁRIOS E PENSÕES DOS CHEFES DA TROIKA

Por JUAN OLIVER

Os ideólogos e executantes dos programas de cortes sociais e direitos laborais que deixaram na pobreza centenas de milhares de famílias europeias cobram salários multimilionários, desfrutam de condições de trabalho dignas de chefes de Estado e garantem para si reformas de luxo quando saem dos cargos, seja qual for o resultado do seu mandato.


Christine Lagarde, Mario Draghi y Jean-Claude Juncker en una reunión informal del Eurogrupo en Nicosia (Chipre). AFP/ Yiannis Kourtoglou


Os máximos representantes da troika, o presidente da Comissão Europeia, o luxemburguês Jean-Claude Junker, a directora geral do FMI, a francesa Christine Lagarde e o presidente do Banco Central Europeu, o italiano Mario Graghi, levam, entre os três, cerca de 1,25 milhões de euros anuais em salários e achegas várias.
Enquanto exigem redução de ordenados, salários mínimos e pensões, cortes nos gastos sociais, saúde e educação e a flexibilização das causas de despedimento; enquanto ameaçam com multas escandalosas os países que não cumpram as suas ordens em matéria de défice e endividamento, enriquecem com remunerações, que multiplicam por oito as dos chefes de governo, como o espanhol e que superam em muito o limite razoável para manter a dignidade do cargo.
É corrupção? O Dicionário da Real Academia define este termo da seguinte maneira: “Nas organizações, especialmente as públicas, a prática que consiste na utilização das funções e meios em proveito, económico ou de outra índole, dos seus gestores”.

Jean-Claude Junker, luxemburguês, presidente da Comissão Europeia, não dá a conhecer o seu salário, embora isso esteja estabelecido no regulamento 422/67 do Conselho Europeu, que determina as remunerações do presidente e dos membros da Comissão Europeia.
O salário de Junker deve ser 138% do salário máximo de um funcionário das instituições europeias. Actualmente, é de 324.377 euros, tendo, no ano passado, subido 3,2%, o triplo do crescimento da inflação na UE, 1,1%, e na Eurozona, 1,02%.
E não só. Junker recebe, além disso, mais 48.600 euros para habitação ( 15% do seu salário bruto) e 1.418 euros adicionais, por mês, como “subsídio de ócio”. Claro que ajudas de custo, alojamento, despesas com viagens e manutenção são pagas à parte.
Ser presidente da Comissão é uma mina, mas deixar de o ser, também. Quando se retirar, Junker receberá, durante três anos, uma indeminização mensal entre 40% e 65% do seu salário, dependendo dos anos no cargo. Se tal acontecesse hoje, como está no cargo há menos de três anos, não teria direito ao máximo. E arrecadaria apenas, num triénio, mais de meio milhão de euros. Dentro de dois anos, quando cumpra 65 de idade, terá direito a uma pensão vitalícia que se calcula em função do tempo em que se manteve no cargo.
Se for até ao fim dos mandatos, como o seu predecessor, o português José Manuel Durão Barroso, receberá uns 160.000 euros por ano. Como se fosse pouco, esse subsídio será compatível com qualquer outra pensão pública a que tenha direito no seu país.

Christine Lagarde, francesa, directora geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), quando foi nomeada, em Julho de 2011, recebeu uma carta do seu novo empregador onde se detalhavam as suas condições salariais e laborais: 440.000 euros por ano, além das ajudas de custo e despesas de representação, viagens, manutenção e alojamento grátis. Para ela, evidentemente, mas também para o seu consorte se este decidir acompanhá-la às reuniões do FMI que se celebrem fora de Washington, onde o organismo tem a sua sede central.
O salário não deve ser suficiente aos olhos dos dirigentes da organização, pois, pelo sim pelo não, acrescentaram um subsídio de 6.700 euros por mês para que possa “manter um nível de vida apropriado à sua posição”.
Lagarde usufrui do fundo de pensões comum do pessoal do FMI, mas, além disso, quando deixar o cargo, receberá, por ano, a partir dos 67 anos, uma percentagem da sua remuneração proporcional aos anos em que lá esteve. Algo de semelhante ao caso de Junker.
Chegará a 100% se estiver dez anos e, como já leva seis, tem assegurados uns 367.000 anuais. Se Lagarde falecer antes do seu consorte, ele herdará a pensão para toda a vida e os filhos receberão também um subsídio.

Mario Draghi, italiano, presidente do Banco Central Europeu, além de ter assegurados o aluguer da casa, ajudas de custo, viagens, etc., recebeu 385.860 euros anuais, segundo as contas do BCE correspondentes a 2015. No ano anterior, ganhou 379.608 euros e, no ano de 2013, 378.240 euros.
Desde 2007, quando começou a crise económica, o salário do presidente do BCE cresceu 45.000 euros anuais, mais de 13%.

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Ver texto original em http://www.publico.es/economia/jefes-troika-ganan-25-millones.html