O QUE ELES ESCONDEM

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015


Primeiras medidas do novo governo grego:

-       Subir o salário mínimo de 586 euros brutos para 751 euros brutos (quantia anterior aos cortes). 

-       Repor a negociação colectiva com os sindicatos. 

-       Devolver os postos de trabalho a 3.500 funcionários públicos despedidos ilegalmente. 

-       Voltar a contratar as empregadas da limpeza do Ministério das Finanças, acampadas à porta do ministério e que se tornaram um símbolo de luta e resistência.

-       Dar a nacionalidade grega aos filhos de emigrantes nascidos na Grécia.

-       Abolição do pagamento de um euro por receita médica. 

-       Abolição da taxa (entre 3 e 5 euros) por cada consulta médica. 

-       Restaurar o acesso universal ao sistema público de saúde aos 3 milhões de gregos que tinham sido postos fora deste sistema e que, agora, tinham apenas acesso às urgências. 

-       Paralisar a privatização do Porto do Pireu. Estava previsto que o governo pusesse no mercado 67% da propriedade estatal deste porto. O principal candidato à compra era o grupo chinês COSCO, que já opera os terminais de carga II e III, através de uma concessão de 30 anos. 

-       Paralisar a privatização da Companhia Nacional de Energia, de que 51% ainda está nas mãos do Estado.

-       Rever todas as privatizações “para que não se faça nenhuma que vá contra o interese geral”. Numerosas privatizações estavam previstas: o Porto de Tesalónica, o operador ferroviário Trainose, o de infraestruturas rodoviárias ROSCO, etc.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015





Europa prefere abutres

Por Juan Torres López*

Ultimamente, foram aprovadas, nas Nações Unidas, várias resoluções sobre a dívida soberana que, significativamente, passaram quase desapercebidas nos meios de comunicação espanhóis.
Em Setembro passado, a Assembleia Geral aprovou uma resolução para impulsionar um marco multilateral que regule os processos de reestruturação da dívida soberana e, posteriormente, fizeram-se acordos para a definir e estabelecer o calendário de actuações.
Os promotores realizaram a proposta motivados pela batalha legal que a Argentina mantinha com fundos financeiros, chamados abutres pela sua forma de actuar. Um deles havia comparado 48 milhões de dólares em títulos argentinos por uma fracção do seu valor nominal e, quando este país acordou a reestruturação com 92,4% dos seus credores, esse fundo negou-se a aceitá-la. Processou, então, o Estado argentino, nos Estados Unidos, reclamando os 100% do valor dos títulos, mais os juros (1.500 milhões, no total) e um juiz deu-lhe razão. A Argentina encontrou-se numa grande dificuldade, não porque não quisesse pagar, como alguns disseram, mas porque 1% dos credores tinha bloqueado os pagamentos aos restantes.
Estados Unidos, Japão e os membros da União Europeia foram os principais países que não apoiaram a resolução, na ONU, quer abstendo-se (41, como a Espanha) ou votando contra (11), enquanto 124 países (70%) votaram a favor.
Os Estados Unidos opuseram-se, alegando que a medida provocaria incerteza nos mercados financeiros e porque prefere outros foros como o Fundo Monetário Internacional (onde 9% dos membros da ONU que se opõem a estas medidas têm 46% dos votos). O representante italiano que falou em nome de todos os Estados-membro da União Europeia, reconheceu a importância da reestruturação, mas opôs-se à resolução por uma razão mais simples e “à europeia”: “necessitamos realizar muitas deliberações, nas nossas capitais”.
Como, desgraçadamente, vem ocorrendo em tantas ocasiões, as autoridades europeias, também agora, se puseram do lado dos fundos financeiros e dos bancos, dos grandes credores. Todas as crises da dívida terminaram com algum tipo de reestruturação, de modo que, com toda a segurança, o que está perante a Europa não será reestruturar ou não a que temos, mas fazê-lo bem ou fazê-lo mal, a favor de uns ou de outros. Ao recusar estes marcos multilaterais nem sequer se favorece todos os credores ou a estabilidade dos mercados e da economia, mas os fundos especulativos e quem apenas procura jogar com vantagem. Os dirigentes europeus prestaram outro fraco serviço aos seus povos, que são quem paga a dívida colossal, gerada em benefício dos bancos e das grandes empresas.


(*) Catedrático na Universidade de Sevilha, no Departamento de Teoria Económica e Economia Política.

Texto original em http://ccaa.elpais.com/ccaa/2015/01/04/andalucia/1420371044_024930.html

sábado, 17 de janeiro de 2015


Em Portugal, os partidos de esquerda, PCP e BE, apresentaram, em 2012, no Parlamento, propostas de renegociação e auditoria da dívida pública (Ver em http://www.cadpp.org/node/346 ), rejeitadas com os votos da direita, PS, PSD e CDS. Neste artigo de Eric Toussaint, o que é dito em relação à dívida da Grécia aplica-se, com poucas diferenças, à de Portugal. Um trabalho preliminar à auditoria da dívida portuguesa pode ser consultado aqui.


E se o Syriza pega na palavra da EU e faz uma auditoria à dívida da Grécia?

Por  Eric Toussaint*

Desde o anúncio de eleições na Grécia, para o dia 25 de Janeiro de 2015, a possibilidade de que o Syriza saia vitorioso das urnas e forme governo tem sido apresentado à opinião pública internacional, particularmente, à da eurozona, como uma ameaça. Contudo, aqueles que fazem soar o alarme sabem perfeitamente que o Syriza anunciou que não suspenderá o pagamento da dívida, nem sairé do euro, se chegar ao governo. O Syriza propõe uma renegociação da dívida à escala europeia e deseja que a Grécia permaneça na eurozona. Em contrapartida, o Syriza compromete-se a pôr fim às medidas de austeridade, injustas e antissociais, implementadas pelos anteriores governos e pela Troika.
Esta campanha sobre as supostas ameaças que o Syriza representa pretende intimidar o eleitorado grego, com o objectivo de que renuncie ao seu direito à mudança. De igual modo, pretende pôr uma parte da opinião pública europeia contra a coligação de esquerda radical grega, para tentar evitar que, a seguir, o Podemos, em Espanha, possa ganhar as eleições, em Outubro de 2015.
A dívida reclamada à Grécia representa 175% da riqueza produzida no país, num ano, e supõe um lastro insustentável para o povo heleno.
Que acontecerá se o Syriza, uma vez no governo, decida levar à letra o artigo 7, de um regulamento adoptado, em Maio de 2013, pela União Europeia, para os países submetidos a um plano de ajustamento estrutural? Eis o texto completo do ponto 9, do citado artigo 7: “Um Estado membro, submetido a um programa de ajustamento macro-económico, efectuará uma auditoria exaustiva das suas finanças públicas, a fim de, entre outras coisas, avaliar as razões pelas quais se incorreu em níveis excessivos de endividamento e detectar qualquer possível irregularidade.” (1)
O governo de Antonis Samaras absteve-se de aplicar esta disposição do regulamento, para ocultar à população grega os verdadeiros motivos do aumento da dívida e as irregularidades correspondentes. Em Novembro de 2012, o Parlamento, dominado pela direita, havia recusado a moção, apresentada pelo Syriza, para a criação de uma comissão de investigação sobre a dívida, com 167 votos contra, 119 a favor e nenhuma abstenção.
Está claro que, depois de uma vitória eleitoral do Syriza, o governo que se forme sob a sua liderança poderia, perfeitamente, pegar na palavra da União Europeia, ao constituir uma comissão de auditoria à dívida (com participação cidadã), com o propósito de analisar o processo de endividamento excessivo da Grécia, para revelar as possíveis irregularidades e identificar as partes que forem ilegais, ilegítimas, odiosas… dessa dívida.

Alguns elementos-chave que a realização da auditoria poderia trazer à luz:

A dívida grega, que representa 113% do PIB, em 2009, antes do rebentar da crise no país e da intervenção da Troika, que possui 4/5 dessa dívida, passou para 175% do PIB, em 2014. Portanto, à intervenção da Troika seguiu-se um forte aumento da dívida grega.
A partir de 2010 e até 2012, os créditos concedidos pela Troika à Grécia serviram, em grande parte, para reembolsar, durante esse período, os credores, a saber, os bancos comerciais das principais economias da EU, começando pelas entidades alemãs e francesas (2). Cerca de 80% da dívida grega, em 2009, estava nas mãos de bancos comerciais de países da EU. Entre eles, só os bancos alemães e franceses tinham cerca de 50% do total dos títulos públicos gregos.
Uma auditoria da dívida grega mostrará que os bancos comerciais europeus aumentaram intensamente os seus créditos à Grécia, entre finais de 2005 e 2009 (os créditos foram incrementados em mais de 60 mil milhões de euros, passando de 80 mil milhões para 140 mil milhões), sem considerarem a capacidade da Grécia para os devolver. Os bancos actuaram de maneira temerária, convencidos de que as autoridades europeias viriam em seu auxílio, em caso de problema.
A auditoria da dívida grega mostrará que o pressuposto plano de resgate à Grécia, posto em prática pelas autoridades europeias com a ajuda do FMI, permitiu, na realidade, que os bancos de alguns países europeus, com peso decisivo nas instâncias europeias, continuem a receber os reembolsos da Grécia, transferindo o risco para os Estados, através da Troika. Não foi a Grécia a resgatada, mas um punhado de grandes bancos comerciais europeus, implantados principalmente nos países mais fortes da EU.
A auditoria analisará a legitimidade do plano de resgate. Estará ele conforme com os tratados da EU (principalmente o artigo 125, que proíbe um Estado-membro encarregar-se dos compromissos financeiros de outros Estados-membro)? Os prestamistas públicos, em 2010 (isto é, os 14 Estados-membro que concederam empréstimos à Grécia, num total de 53 mil milhões de euros, o FMI, o BCE, a Comissão Europeia, etc.) respeitaram o princípio de autonomia da vontade de quem pede emprestado, a saber, a Grécia? Ou beneficiaram-se da sua angústia perante os ataques especulativos dos mercados financeiros, para lhe impor contratos que vão contra o seu próprio interesse? Estes prestamistas impuseram condições leoninas, sobretudo ao exigir taxas de juro exageradas? (3)
Trata-se, por isso, de auditar a acção do FMI. Sabemos que, no seio da direção do Fundo, vários directores executivos (em especial, o do Brasil e o da Suíça) mostraram grandes reservas quanto ao empréstimo acordado pelo FMI, afirmando, sobretudo, que a Grécia não seria capaz de o devolver, dadas as políticas que lhe eram impostas. (4)

Ultrapassou o BCE, de maneira grave, as prerrogativas, ao exigir ao Parlamento grego que legislasse sobre o direito de greve e a fixação dos níveis salariais?

Em Março de 2012, a Troika organizou uma reestruturação da dívida grega, que foi apresentada, na altura, como um êxito. Recordemos que o então primeiro-ministro Yorgos Papandreu anunciou, no início de Novembro de 2011, na véspera de uma reunião do G-20, a sua intenção de convocar um referendo, para Fevereiro de 2012, sobre essa reestruturação da dívida, preparada pela Troika. Perante a pressão desta, esse referendo jamais teve lugar e retirou-se o direito ao povo grego de se prenunciar sobre as novas dívidas. Os grandes meios de comunicação fizeram eco do discurso de que a reestruturação permitia reduzir a dívida grega em 50%. Na realidade, esta dívida é maior em 2015 do que em 2011, o ano prévio à grande anulação dos supostos 50%. A auditoria mostrará que esta operação de reestruturação, que constitui uma vasta fraude, estava vinculada ao aprofundamento das políticas contrárias ao interesse da Grécia e da sua população.
A auditoria deverá avaliar se as estritas condições impostas pela Troika à Grécia, como contrapartida dos créditos, constitui uma violação de uma séria de tratados e convenções, que têm de ser respeitados, tanto pelos credores, como pelo devedor, a Grécia. O professor de Direito, Andreas-Fischer-Lescano, representando a Câmara de Trabalho de Viena, demonstrou, de modo irrefutável, que os programas da troika são ilegais à luz do direito europeu e do direito internacional. As medidas definidas nos programas de ajustamento, a que a Grécia foi submetida, e as políticas concretas, que são consequência directa disso, violam uma série de direitos fundamentais, como o direito à saúde, à educação, à habitação, à Segurança Social, a um salário justo, mas também à liberdade de associação e à negociação colectiva. Todos estes direitos estão protegidos por numerosos textos jurídicos à escala internacional e europeia, como a Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia, o Convénio Europeu dos Direitos Humanos, a Carta Social Europeia, os dois pactos da ONU sobre Direitos Humanos, a Carta das Nações Unidas…
A auditoria deverá demonstrar que as medidas ditadas pelos credores constituem regressões manifestas ao exercício dos direitos humanos fundamentais e uma violação flagrante de uma série de tratados. Podem ser identificadas importantes irregularidades. Consequentemente, a comissão encarregada da auditoria poderá emitir uma opinião argumentada acerca da legalidade, da ilegitimidade e, inclusive, da nulidade da dívida contratada pela Grécia com a Troika. 

(1)          Regulamento (EU) Nº 472/2013, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 21 de Maio de 2013, sobre o reforço da supervisão económica e orçamental dos Estados-membro da zona do euro, cuja estabilidade financeira experimenta ou corre o risco de experimentar graves dificuldades. Disponível em http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=OJ:L:2013:140:0001:0010:ES:PDF

(2)          RMF “The Eurozone between austerity and default”, 2010. http://www.researchonmoneyandfinance.org/index.php/publication/eurozone-reports/33-second-rmf-report-on-the-eurozone-crisis-eurozone-between-austerity-and-default, Ver também Éric Toussaint “Grecia-Alemania: ¿Quién debe a quién? (2) Los acreedores protegidos y el pueblo griego sacrificado”. Publicado el 11 de octubre de 2012, http://cadtm.org/Grecia-Alemania-Quien-debe-a-quien,8423  

(3)          As taxas de juro exigidas, que eram de 4% a 5,5%, em 2010-2011, foram reduzidas para cerca de 1%, em 2012, perante os protestos surgidos em diferentes lugares (incluindo o governo irlandês, ao qual foi imposto, também, uma taxa de juro muito elevada, no final de 2010). Ao reduzir consideravelmente as taxas de juro, os 14 Estados reconheceram, de facto, que as taxas anteriormente exigidas eram exageradas. Em 2010-2011, os juros pagos pela Grécia à França elevaram-se a 437 milhões de euros. Ver http://www.assemblee-nationale.fr/13/pdf/rapports/r2857-tI.pdf 


 
*Doctor em Ciências Políticas; Porta-voz do CADTM internacional;  Auditor da dívida do Equador em 2007-2008. Autor de Bancocracia.

Texto original publicado em 12.01.15, no Público.es

 

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

A fabulosa carreira de Sérgio Monteiro, gestor, e Sérgio Monteiro, secretário de Estado 
 
Por Mariana Mortágua      
Vai para quatro anos que a maioria de direita aplica um radical programa de austeridade. Sobre o falhanço total desta política - da dívida ao emprego, do défice às promessas de uma nova economia - já não há muito mais a acrescentar e não é esse o tema que aqui nos traz hoje.
Concentremos as atenções em como, não contentes com o empobrecimento forçado do país, PSD e CDS justificaram toda a austeridade com um discurso moralista dizendo que, no país com os salários mais baixos da zona euro, vivemos todos acima das nossas possibilidades.
Números mil vezes deturpados, sobre um suposto Estado gordo que só existe nas mistificações da direita, foram tomados como verdades incontestáveis. O alegado sorvedouro de recursos que são as empresas públicas de transportes foi uma das bandeiras da direita, numa campanha ideológica contra os serviços públicos.
Sobre o mito da eficácia privada estamos conversados depois da derrocada dos impérios PT e Espírito Santo, mas a forma como PSD e CDS passaram anos a falar no despesismo das empresas de transportes já tem que se lhe diga.
Porque esta suposta exigência sobre o que é público, e mão pesada sobre os trabalhadores, esconde uma imensa complacência para com as práticas de gestão, para não dizer apadrinhamento, nessas mesmas empresas. Compreende-se. A dança das cadeiras entre a sua má gestão e o atual Governo fala por si.
Atentemos, a este propósito, no relatório do Tribunal de Contas sobre o TGV. Aí ficámos a saber o que nunca soubemos nas duas auditorias solicitadas pela ministra Maria Luís Albuquerque.
Um contrato Swap, assinado por Sérgio Monteiro enquanto representante à altura de um consórcio privado, gerou perdas de 152 milhões de euros. Pior. Que esse mesmo contrato, foi resgatado pelo Estado, que assumiu assim todos os prejuízos decorrentes dessa operação financeira engendrada por Sérgio Monteiro no privado. Quem é que assinou, pelo Estado, essa operação? Isso mesmo. Maria Luís Albuquerque e Sérgio Monteiro.
Esta dança das cadeiras, verdadeiro toma lá dá cá, coloca em perspetiva a ingenuidade das preocupações da Olívia patroa e da Olívia costureira. Mas aqui, nesta história, somos todos nós que pagamos as decisões de Sérgio Monteiro, secretário de Estado, a propósito das engenharias financeiras de Sérgio Monteiro, gestor.
Diz o secretário de Estado, em sua defesa, que o contrato existe e não desmente que seja ruinoso, mas que se limitou a assinar e nunca o negociou. Assinei mas não negociei é o novo fumei mas não inalei. Já percebemos que há quem no Governo pareça ter aprendido com o BES: a culpa, ainda nos vai dizer, é do porteiro e não de quem, com a sua assinatura, será sempre o responsável pela decisão.

O que nasce torto tarde ou nunca se endireita. Nada no processo dos contratos Swap foi transparente. A começar pelo óbvio. Pelo menos quatro gestores responsáveis por esses contratos ruinosos transitaram dessa linda experiência para o governo PSD-CDS. Dois foram demitidos. A partir daí tudo foi conduzido pelo Governo com um único propósito, resguardar a atual ministra das Finanças, envolvida até ao pescoço em contratos ruinosos na Refer.
Uma discussão semântica entre contratos tóxicos ou exóticos, documentos desaparecidos, contratos alterados à última hora, tudo foi feito para proteger a ministra, verdadeira juíza em causa própria. Tudo foi feito para resguardar a ministra e, percebe-se agora, Sérgio Monteiro.
Há menos de um ano garantia Sérgio Monteiro na comissão de inquérito aos Swap, que não existia nenhum desses contratos especulativos nas PPP.
Mais disse ainda o secretário de Estado. "Ainda que houvesse [um 'swap' especulativo], o risco era do parceiro privado. O parceiro público não pagaria nem mais um cêntimo caso houvesse 'swap' especulativo". Afinal o contrato existia, era o TGV, e o que Sérgio Monteiro se esqueceu de dizer é que o risco era privado até Sérgio Monteiro o ter passado para a esfera pública, e o cêntimo que ninguém iria pagar transformou-se em 152 milhões de euros.
Sérgio Monteiro, campeão das PPP´s ruinosas para o Estado enquanto gestor, é o mesmo Sérgio Monteiro que renegociou para o Estado essas mesmas PPP. Esta duplicidade cúmplice resume três anos e meio de Governo. Tudo exige a quem tem salários médios de 800 euros, mas depois parte e reparte para garantir aos privados a melhor parte. Diz que é esta milionária dança das cadeiras que PSD e CDS chamam “ética na austeridade”.

Declaração política na Assembleia da República em 14 de janeiro de 2015

Texto retirado do Esquerda.net

terça-feira, 13 de janeiro de 2015


Aos varredores da Internet e batedores de inimigos, no frenesim de agarrar o génio que, enraivecido, se escapuliu da garrafa.

X

Queriam os judeus terra sua e foi-lhes cedida por Lénin, onde não pisassem ninguém, podendo ser uma nação, com língua e cultura próprias.
Logo os sionistas fanáticos uivaram pela Grande Sion, mesmo massacrando pessoas que não lhes acatassem roubos.
Fortes da pressão da banca e subordinação de governos, foi-lhes aceitada a exigência, quando, ao arrepio da ONU, por cada palestino que morra, há mais um colono que avança.
Surge, no Afeganistão longínquo, uma educação de gente, em que se igualavam direitos de homens, de mulheres, de todos, fosso qual fosse o seu berço.
Crime, esta governação vermelha, que trava a exploração das riquezas, por nós, civilizados de sempre, eleitos de Deus para mandar.
Flui dinheiro a radicais que, da bestialidade à bruteza, acabam por devorar a mão que antes os acirrara e armarra.
Havia nos croatas e sérvios laços de amizade e família, sem que uma religião impedisse toda a convivência entre si.
Decide-se a balcanização da zona, com uma Alemanha em expansão e ajudazinha da América: guerra fratricida, que explode, hoje, num fogo mais lento, porque a ocupação obriga.
Vê-se, nos petróleos do Iraque, saída que o capitalismo anseia, pois lucro faz-se em pobreza e subjugação dos demais.
Tem-se, em pretexto, armas de destruição maciça que, não podendo existir, servem à destruição do país, lançam todo um povo no ódio.
Estes, os estranhíssimos fenómenos de uma loucura tão súbita que nem a inteligência compreende, se atentarmos em analistas e cu-mentidores de ofício deste festival hipócrita ou venalidade a quem lhes puxa os cordéis e alarga um pouco os cordões.
Valha-nos que, no primarismo feroz, pastam, em palração, manadas, dada uma falta de temas, porque nós vivemos no céu, onde não há quaisquer nuvens e o sol aquece os transidos.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015






MITOS SOBRE A GRÉCIA E SOBRE A EUROPA

Por Vicenç Navarro*

O pensamento económico dominante, que não é outro senão o neoliberalismo, tem a sua própria argumentação, que utiliza constantemente, para criar estados de espírito que façam mais toleráveis e aceitáveis as suas propostas, que implicam sempre sacrifícios para as classes populares.
Esta argumentação repete-se através dos maiores meios de informação e persuasão, convertendo-se na sabedoria convencional do país. Isto é, as “obviedades” promovidas pelo pensamento económico dominante aceitam-se sem discussão, marginando os autores que as questionam. Estas “obviedades” são repetidas milhares de vezes por economistas mediáticos, que tentam ressumar segurança, querendo aparentar competência.
Em cada uma destas obviedades, a evidência que as avaliza é muito escassa, quando não praticamente nula. Na realidade, tal evidência (facilmente acessível, por certo) mostra a sua falsidade. Vejamos algumas delas, olhando, primeiro, para o que a sabedoria convencional diz e contrastando-o, depois, com a evidência que a contradiz.
Primeira suposta obviedade: O problema da Eurozona é o de lhe faltar liderança. Não há uma figura ou um poder político que lidere o dito projecto. Posso citar-lhe um largo número de “gurus mediáticos” que, em tom grave, avançam com esta falta de liderança como um problema importante. Qualquer analista das políticas públicas que estão a ser aplicadas pela maioria das instituições europeias (o Conselho Europeu, a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu), assim como pelos governos da Eurozona, observará uma grande coincidência na maioria delas, sobressaindo as políticas de cortes da despesa pública (aquilo a que popularmente se chama “os cortes”) e de reformas estruturais encaminhadas a baixar os salários. E dirigindo todas elas está o governo alemão, dirigido pela Sra. Merkel, que lidera as políticas públicas da Eurozona. Apesar da enorme evidência de que estas políticas estão a causar um enorme mal às classes populares, elas estão a ser levadas a cabo sob a supervisão e o mandato do governo Merkel. Que mais é preciso para se ver que existe tal liderança? Nem um único país se rebelou contra estas políticas, por muito que, de vez em quando, apareçam vozes tímidas de protesto.
Segunda suposta obviedade: As políticas “irresponsáveis” dos países periféricos da Eurozona (os chamados PIGS) estão a levar a Eurozona a um desastre, abrindo a possibilidade de o euro colapsar. O leitor recordar-se-á de que o colapso do euro foi, durante estes últimos anos, um temor promovido pelos economistas neoliberais (e seus aliados, os economistas socioliberais) que, constantemente, alertavam para que, a não ser que os países periféricos actuassem com mais responsabilidade (isto é, que se cortasse mais e mais despesa pública e se baixasse mais e mais os salários), o euro cairia. De novo, posso citar-lhes numerosos gurus mediáticos, que estavam já calculando o dia e hora em que o euro cairia.
Pois bem, o euro não caiu, nem sequer esteve em perigo de cair, como afirmei, no meio da histeria do suposto colapso (ver “Causas y consecuencias del euro”, Público, 26.07.12). E a causa de que não havia nenhum perigo de que caísse era muito fácil de ver. Ao capital financeiro alemão, o eixo do poder financeiro (e político) europeu, vai-lhe muito, mas muito bem a continuidade do euro, com este desequilíbrio de forças dentro da Eurozona. Na realidade, não lhe podia ir melhor. Estava criando um fluxo de dinheiro, da periferia para o centro, que beneficiava o establishment financeiro e económico alemão. O euro, longe de estar a morrer, tinha uma saúde muito robusta.
Terceira obviedade: A vitória do Syriza, na Grécia, poderia levar a que a Grécia fosse expulsa da Eurozona. O programa do Syriza, que ameaça com a reestruturação da dívida e, inclusive, a impugnação de uma componente dela, causará a sua expulsão. Isto, você tê-lo-á lido, nos maiores meios, milhares de vezes, estes dias. Todos os gurus mediáticos, incluindo o guru do El País, o Sr. J. C. Diez, têm estado vaticinando-o. E as vozes conservadoras e neoliberais (incluindo socioliberais), que dominam as tertúlias, estão, agora, augurando que a Grécia acabará por ser expulsa. E , como prova disso, remetem-se às declarações do Ministro das Finanças alemão, de porta-vozes do FMI e de um largo número de porta-vozes da sabedoria convencional. É o novo dogma mediático e político.
Pois bem, asseguro-vos que a última coisa que a banca alemã deseja é que a Grécia saia do euro. E se não, esperem para ver. E a causa de que não porão a Grécia fora da Eurozona é que, se isso acontecesse, a banca alemã teria um enorme problema. A Alemanha tem 700.000 milhões de euros investidos nos PIGS, Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha (200.000 milhões, neste último). Isto é muito dinheiro. Se a Grécia for expulsa, é lógico que a Grécia não pague a dívida. E quem teria, então, um grave problema não seria a Grécia, mas a Alemanha. Na realidade, todo o resgate à banca espanhola (para o qual a EU ofereceu 100.000 milhões de euros) era para pagar a dívida à banca alemã (como assim constou nos discursos, no Parlamento alemão, no momento em que havia que aprovar tais fundos).
A vitória do Syriza significaria um passo para redefinir a dinâmica Sul / Norte, dentro da Eurozona, o que implicaria, por definição, redefinir as relações de poder dentro da Eurozona. Na realidade, Grécia e Espanha têm mais poder do que coragem para o utilizar. E o poder está em que devem muitíssimo dinheiro à Alemanha, que este país não pode perder, o que aconteceria se estes países não pagassem. Se o senhor, leitor, deve 100.000 euros a um banco e não os pode pagar, o senhor tem um problema. Mas, se dever 100.000 milhões ao banco e não puder pagá-los, o banco tem um grande problema. E a Alemanha é plenamente consciente disso. Não é de estranhar que, agora, todos os neoliberaios e socioliberais se mobilizaram para que Syriza não ganhe. E utilizarão todo o tipo de argumentos. Mas isso faz parte de uma narrativa que, como alguns temos denunciado, carece de credibilidade. Claro como água.
 __________

* Catedrático de Ciências Políticas e Sociais, na Universidade Pompeu Fabra, de Barcelona. Foi Catedrático de Economia Aplicada, na Universidade de Barcelona

O texto original encontra-se em http://www.vnavarro.org/?p=11653

sábado, 3 de janeiro de 2015


"Há muitas maneiras de falar de televisão. Mas, numa perspectiva business, sejamos realistas: basicamente, o papel de TF1 é ajudar a Coca-Cola, por exemplo, a vender o seu produto. Ora para que a mensagem publicitária seja compreendida, é preciso que o cérebro do telespectador esteja disponível. As nossas emissões têm como vocação torná-lo disponível; isto é, diverti-lo, descontraí-lo para o preparar entre duas mensagens. O que vendemos à Coca-Cola é tempo de cérebro humano disponível”

 Declaração de Patrick Le Lay, ex-Director-Geral da TF1, citada por Serge Latouche em O Desafio do Decrescimento, colecção Economia e Política, Instituto Piaget, 2012.