No sábado, no domingo ou hoje, os meios de comunicação
portugueses, tão preocupados com o cumprimento das promessas eleitorais do
governo grego, podiam ter dado uma notícia, mais ou menos nestes termos:
O Parlamento grego acolhe jornadas
históricas
Pela primeira vez, na Europa, foi
constituída uma Comissão de Auditoria da Dívida com participação cidadã, sob os
auspícios do Parlamento grego e da sua Presidente, Zoe Konstanstopoulou.
Mas, até ao momento (22 horas do dia 6 de Abril), nem uma
linha. Nestes termos ou em quaisquer outros.
Façamos, então, nós de jornalistas:
Terminam hoje, no Parlamento grego, três
jornadas sobre a dívida contraída pelos anteriores governos, com a apresentação
de uma comissão, composta por nacionais e estrangeiros, que irá estabelecer a
verdade sobre a dívida, determinando qual a parte ilegal, a ilegítima, a odiosa
e a insustentável.
O Presidente da República da Grécia esteve
presente e, num discurso, deu apoio a esta iniciativa.
O primeiro-ministro Alexis Tsipras, uma dezena
de ministros, o chefe de gabinete de controlo do Orçamento e o chefe do serviço
científico do Parlamento intervieram para dizer que punham os seus ministérios
e departamentos à disposição da Comissão.
Foi acordado, igualmente, dar a conhecer os
resultados desta auditoria ao Parlamento Europeu, aos parlamentos nacionais dos
Estados integrantes da União Europeia, assim como à opinião pública
internacional.
O que incomoda tanto nesta notícia, ao ponto de aplicarem o
9º princípio da propaganda de Goebbels: “Silenciar as questões sobre as quais
não se tem argumentos e dissimular as notícias que favorecem o adversário, com
a ajuda dos meios de comunicação”?
A resposta está nas seguintes definições, dadas por quem
assumiu, a convite da Presidente do Parlamento grego, a coordenação científica
da comissão – Eric Toussaint:
Dívida ilegal: contraída
em violação do direito jurídico ou constitucional.
Dívida pública
ilegítima: contraída pelos poderes públicos sem respeitar o interesse geral
ou em seu prejuízo.
Dívida pública odiosa:
originada em créditos concedidos a regimes autoritários ou impondo condições
que violam os direitos sociais, económicos, culturais, civis ou políticos das
populações afectadas pelo pagamento dessa dívida.
Dívida pública
insustentável: dívida cuja devolução condena a população de um país ao
empobrecimento, a uma degradação da saúde e da educação pública, ao aumento do
desemprego, inclusive à subalimentação. Em resumo, uma dívida cujo pagamento
implica o não respeito dos direitos humanos fundamentais.
É preciso que este “mau” exemplo não chegue aos nossos
ouvidos e que a má-fé de apresentar Portugal como um caso de sucesso, diferente
da Grécia, não seja visto como servilismo e traição ao país.