O QUE ELES ESCONDEM

terça-feira, 24 de março de 2015


DISCURSO DE A. TSIPRAS NO COMITÉ CENTRAL DO SYRIZA

(…) tivemos que fazer frente a um eixo de forças políticas, animado, principalmente, pelos espanhóis e portugueses, que, por razões políticas evidentes, tentaram levar as negociações ao fracasso, correndo o risco de criar um incidente a nível internacional, com o objectivo de evitar perturbações políticas no interior dos seus países.

Camaradas,

Estamos no início de um longo e difícil combate, unidos não só pelo programa na base do qual o povo grego nos deu a sua confiança, mas também pelos princípios, valores fundamentais, deias e história da esquerda, pela nossa vontade de servir o povo e o país, pelas nossas relações francas e abertas com os trabalhadores, com aqueles que criam e inventam o futuro, pelo nosso apego à democracia e à justiça social, pela mobilização solidária do povo em torno de reivindicações amadurecidas, que dão o verdadeiro sentido à palavra progresso. E para que não haja confusão – faço questão de dizer, claramente, que: se nós representamos o novo, o “sem precedentes”, a esperança de mudança, isso não significa de modo nenhum, que tenhamos nascido ontem. Nós temos a antiguidade e a experiência do nosso partido, dos seus combates, da sua longa história.

Nós demos provas em períodos difíceis. E, hoje, aconteça o que acontecer, não vamos transigir com os nossos princípios e valores, nem recuar perante as dificuldades, traindo os nossos compromissos. Todos aqueles que esperarem isso terão uma desilusão. E, permitam-me recordar um conselho dos nossos mestres da emancipação social: o nosso combate político tem como ponto de partida princípios e valores imutáveis, mas não os esvaziará do seu conteúdo com uma obstinação cega. Nós estivemos sempre, e hoje ainda mais, obrigados a servir esses princípios e valores, elaborando uma táctica eficaz e inteligente, tendo em conta as relações de força, a disposição dos trabalhadores e do povo, a nossa margem de manobra em cada instante e em cada circunstância, os imperativos do nosso país. Este discernimento é a principal virtude numa situação como a de hoje, em que o SYRIZA está confrontado com um desafio sem precedentes: promover a mudança social e política, assumindo responsabilidades governamentais e não o de força reivindicativa de oposição.
Sabem o que isto significa, camaradas. Isto quer dizer que cada decisão, cada avaliação dos nossos actos, cada atitude, cada posição pública tem repercussões, não só na imagem actual da esquerda e seu futuro, não só sobre o conjunto das mobilizações progressistas, mas também sobre o presente e o futuro do nosso país e do nosso povo. É uma responsabilidade inédita, numa situação inteiramente nova. E eu estou certo de que somos capazes de assumir, com o apoio do nosso povo, esta responsabilidade.

Camaradas,

Há apenas um mês que o povo grego confiou ao SYRIZA um mandato governamental. Um mês que pôs em causa os códigos e velhos usos, os tabus políticos e ideológicos.
E, seria desejável não perder de vista o quadro de conjunto: o nosso país e o nosso governo encontraram-se no centro das preocupações europeias e mundiais. A Grécia deixou de ser considerada, desde os primeiros dias do novo governo, como um paria, que recebe ordens e aplica memorandos. O povo grego sente ter reencontrado a dignidade que lhe havia sido contestada e ultrajada.
A oposição à austeridade foi colocada no centro de todas as conversações. A crise humanitária, as pessoas que sofrem, que nós representamos nas conversações, não são já consideradas como simples números sem dimensão humana.
Nós encontrámos aliados no nosso combate de denúncia de uma crise auto-alimentada.
Nós reconquistámos o direito fundamental de que qualquer povo livre dispõe, o de discutir o seu futuro. O de decidir o seu futuro.
Nós pronunciámos não um, mas vários NÃO, em poucos dias, apesar das pressões que se tornaram, por vezes, tremendas, ao revestirem o carácter de chantagem. E, depois destas provações, chegamos a uma primeira conclusão política: hoje, a margem de liberdade de acção do nosso governo e do nosso país alargou-se. A libertação dos memorandos e das políticas desastrosas de austeridade não são já unicamente objectivo de um desejo exaltado, tal como foi expresso no resultado das urnas eleitorais. O nosso governo fez disso um acto político, afirmando a sua “legitimidade”, tanto a nível da opinião pública europeia como a nível das instituições europeias, quando o pôs em prática como objecto de negociação e de confrontação política. E os primeiros passos foram dados na via da libertação, com a qual o SYRIZA se comprometeu, unindo o nosso povo. Não é para nos congratularmos com os cumprimentos, nem para embelezar a dura realidade, falsificando a verdade, que nós fazemos esta constatação política.
Os subterfúgios não enganam o nosso povo e estão nos antípodas da cultura do nosso partido. Em contrapartida, esta constatação contribui para o esclarecimento da nossa conduta actual e futura, já que a melhoria da nossa posição e da situação geral permitir-nos-á reivindicar e aplicar uma outra política, que nós desejamos e prometemos.
São as circunstâncias difíceis? Sim. Grandes dificuldades se levantam diante de nós, pois, todos os dias, travamos novos combates e os maiores estão para vir. Mas, nós preparamo-nos, melhorando as nossas posições e a situação geral, com vista a atingir os nossos objectivos. Hoje, uma coisa é clara: a troika acabou. E tanto pior para aqueles que vêem a troika no lugar da Comissão Europeia ou das instituições europeias e internacionais, com as quais colaboramos e discutimos, evidentemente, pois pertencemos à zona euro. A troika, como mecanismo de supervisão e de dominação extra-institucional, arbitrária e sem legitimidade democrática está, formalmente, terminada. E esta missão foi levada a cabo pelo novo governo grego.
É, igualmente, claro que os memorandos pertencem ao passado. E isto está atestado com o fundo e a forma do acordo de empréstimo, visto não fazerem parte do texto adoptado e porque as medidas absurdas de austeridade já não figuram no nosso novo acordo. Este novo acordo, obtido após uma série de negociações difíceis, demonstra não só a perseverança dos dogmáticos da austeridade, mas também a determinação do nosso governo em acabar com os seus dogmas.
Mas, gostaria de sublinhar que, se o comportamento dos antigos governantes, pretendendo que continuamos na via deles, parece sobretudo cómico, ouvir discursos denunciadores, deformando a realidade, pronunciados por representantes de forças políticas de esquerda, levados por uma ingenuidade revolucionária, é, em contrapartida, triste e consternante.
Evidentemente, há e deve haver opiniões e julgamentos diferentes, discussões, reservas, discordâncias. Evidentemente, há e haverá ataques dos nossos adversários, na Europa e na Grécia. Mas, nós temos o dever para com o nosso povo, para com os povos da Europa que olham para nós atentamente com um sentimento de esperança, para com os movimentos que lutam pela inversão da austeridade, de revelar e defender a verdade. Então, quais são as verdades sobre as negociações que conduziram ao acordo-ponte?
Primeira verdade: nós chegámos a uma zona minada. as forças conservadoras mais agressivas da Europa, montaram-nos armadilhas, com a colaboração do governo Samaras, para provocar o nosso naufrágio, antes mesmo de governarmos. A intenção deles era a asfixia financeira e a queda do nosso governo, fazendo da vitória do SYRIZA um simples parênteses anti-memorandos.
Nós encontrámo-nos entalados em prazos premeditadamente muito curtos, com os cofres vazios e os bancos com pouca liquidez, com a herança dos compromissos do anterior governo e os acordos assinados com os seus protectores. Com o cutelo da asfixia financeira sobre o pescoço.
Eles tinham tudo preparado para nos levar ao naufrágio e ao país também. Mas não previram que a nossa vitória estaria muito próximo da maioria absoluta, que nós éramos capazes de formar governo rapidamente, sem recorrer a eles, que nós teríamos um apoio popular, sem precedentes, após as eleições, uma mobilização popular, de apoio ao nosso combate pela dignidade e pela soberania, com uma amplidão jamais vista desde o período da Resistência Nacional. Estes imprevistos anularam os seus desígnios e deram-nos esta margem de liberdade que nos permitiu evitar cair na armadilha deles.
Segunda verdade: antes das eleições, nós previmos as dificuldades, mas a avaliação teórica dos obstáculos não é suficiente. É preciso tempo e meios de governação para lhes fazer face. E nós tivemos que reagir antes mesmo da abertura do novo Parlamento: não tínhamos, pois, nenhuma outra arma senão a da nossa determinação em obedecer à vontade do povo tal como foi expressa nas urnas.
Terceira verdade: nós havíamos compreendido, com razão, que o receio de uma desestabilização geral, causada pela eventualidade de um fracasso, sobrepor-se-ia aos projectos orquestrados pelas forças conservadoras na Europa. Esse receio conduziu os grandes países, como a França, os Estados-Unidos, a China e outros, a uma posição mais positiva e responsável relativamente ao eixo da austeridade europeia, permitindo-nos promover os nossos argumentos. Contudo, tivemos que fazer frente a um eixo de forças políticas, animado, principalmente, pelos espanhóis e portugueses, que, por razões políticas evidentes, tentaram levar as negociações ao fracasso, correndo o risco de criar um incidente a nível internacional, com o objectivo de evitar perturbações políticas no interior dos seus países.
Que podemos, pois, concluir destas verdades? Houve um projecto, feito com a colaboração do primeiro-ministro grego que estava de saída, que não hesitou, no momento em que a Grécia iniciava negociações cruciais, em assinar resoluções, no quadro do Partido Popular Europeu, contra o seu próprio país. Esse projecto visava, e continua a visar, conduzir o governo à impotência ou à capitulação, antes de este mostrar provas das suas capacidades, antes de o paradigma grego ter repercussões na relação de forças políticas noutros países e, sobretudo, antes das eleições em Espanha. Isto é, criar pressões que nos conduzam a concessões inaceitáveis, sob a ameaça de asfixia financeira. Provocar a decepção a fim de nos privar do apoio popular. Utilizar a asfixia financeira para suscitar o descontentamento popular.
O objectivo era o de nos obrigar a participar numa formação governamental, de moralidade e legitimidade duvidosas, à semelhança do governo Papademos. Ou, então, derrubarem-nos, pondo fim às nossas reivindicações políticas, que tanto medo lhes fazem. Permitam-me juntar, ainda, um comentário: estes projectos, que visavam conduzir não só o SYRIZA, mas, também, a Grécia “ao leito de Procusto”(1), estavam baseados na sobrestimação cega da sua força, na incompreensão de dados concretos relativos à Grécia e à força da sua esquerda, na subestimação da nossa determinação e da nossa resiliência. Habituados a tratar com representantes servis do establishment dos memorandos, foram surpreendidos com o nosso NÃO, pronunciado na primeira reunião do Eurogrupo. E, muito irritados com o nosso segundo NÃO, na reunião seguinte, lançaram um ultimato. Mas, a nossa recusa em ceder à chantagem do ultimato mobilizou outras forças políticas europeias, que intervieram, defendendo a via da razão. O nosso povo também interveio eficazmente, manifestando-se e mobilizando-se. Foi suscitada uma vaga de apoio internacional, duma amplidão nunca vista desde a época da ditadura. E foi assim que chegámos a um compromisso, que nos permitiu recuperar o fôlego e evitar os piores cenários, que teriam consequências desastrosas, tanto para a Grécia como para a Europa.

Camaradas,

Permitam-me lembrar os objectivos principais dessa negociação: a dissociação do acordo de empréstimo dos memorandos. Um acordo-ponte intermédio, que nos dá tempo e espaço necessários para a negociação principal, a da dívida pública, e aplicar uma política de crescimento, fora do pântano da austeridade. Mas, não foi apenas a armadilha montada que nós conseguimos evitar. Nós obtivemos o fim formal e material do memorando. As exigência [da troika] ditadas por correio electrónico a Hardouvelis [ex-ministro das Finanças] desapareceram da mesa das negociações. E lembram-se do carácter e da dureza dessas medidas! Nós obtivemos o fim da troika. A partir de agora, não trataremos mais dos nossos assuntos com empregados, mas com a Comissão e as instituições que, pelo seu carácter propriamente político, são obrigadas, no quadro das suas funções e negociações, a adoptar critérios que não são exclusivamente tecnocráticos, mas também políticos. Obtivemos o fim dos excedentes irrealistas e inalcançáveis, que são o sinónimo e a base da austeridade e pudemos proteger os bancos. Por isso, os bancos continuaram abertos e a segurança do sistema financeiro, no seu conjunto, foi preservada.

Camaradas,

Nós não temos ilusões. Aliás, não temos direito a tê-las. “Nenhum descanso, nenhuma interrupção, nenhuma trégua”. Estamos apenas no começo.
Demos o primeiro passo, mas muitos outros problemas nos esperam: aumentar as receitas dos fundos públicos. Pôr de pé uma sociedade devastada por cinco anos de sevícias. Superar as pressões e as chantagens que ainda serão exercidas sobre o nosso governo. Estamos conscientes das nossas responsabilidades e o nosso combate será longo e constante. Mas estou optimista e creio que podemos ultrapassar todos os obstáculos, aproveitando o “fôlego” que obtivemos, para materializar rapidamente os nossos compromissos prioritários. Coordenando todas as nossas forças, com o apoio do povo, com a energia da nossa vontade e do nosso trabalho assíduo, nós podemos transformar o acordo de empréstimo em testa de ponte para a grande mudança. É do vosso conhecimento que são muitos os que apostaram num terceiro memorando, antes do fim de Junho. Esses serão desmentidos uma vez mais. Os memorandos, seja qual for a forma, acabaram no dia 25 de Janeiro.
O que procuramos – e aquilo para que nos preparamos, empregando todas as nossas capacidades – é chegar, com os nossos parceiros, a um acordo mutuamente aceitável, que permita libertar definitivamente o nosso país de uma tutela tão asfixiante como humilhante. Um acordo que tornará socialmente duráveis os nossos compromissos financeiros, permitindo-nos retomar o crescimento, a normalidade e a coesão social.
Estamos a entrar, agora, num período de trabalho construtivo. Ontem, anunciei, no Conselho de Ministros, a entrega dos primeiros projectos de lei para inverter a situação actual. O primeiro projecto diz respeito a medidas que serão tomadas para acorrer à crise humanitária. O segundo diz respeito à regularização das dívidas vencidas ao Estado e a fundos públicos. O terceiro diz respeito à protecção da residência principal e será apresentado na próxima semana, a fim de pôr termo à angústia de centenas de milhares de nossos concidadãos, trabalhadores e reformados, que estão em risco de perder a sua casa. Do mesmo modo, na próxima semana, quinta-feira, dia 5 de Março, apresentaremos o projecto de lei para a reabertura da ERT [radiotelevisão pública]. Ao mesmo tempo, entregaremos uma proposta de criação de uma comissão de inquérito para examinar as razões e as circunstâncias exactas que conduziram o nosso povo a esta desgraça. Estas são as primeiras intervenções parlamentares e legislativas do nosso governo de salvação social. E as nossas reformas legislativas vão prosseguir, até à erradicação completa dos problemas da opacidade da vida pública, da corrupção e conflitos de interesse. Contudo, a obra governamental não pode limitar-se à tarefa legislativa. A partir da próxima semana, começamos uma maratona de reformas a fim de racionalizar a administração pública e facilitar a vida dos cidadãos. Estas primeiras medidas ilustram já os princípios da orientação geral das nossas reformas. Mas, gostaria, também, de falar de uma outra medida crucial, que manifesta, de forma exemplar, a passagem ao período pós-memorandos: decidimos revogar a autorização, para pesquisas e explorações, à mina de Skouries, com o objectivo de defender, da maneira mais eficaz possível, duas grandes prioridades do nosso governo: o ambiente e o interesse público. E a nossa resposta às reacções suscitadas pela nossa decisão é simples e sem equívocos: se o povo nos concedeu a sua confiança, é porque, para nós, os trabalhadores, o desenvolvimento produtivo progressivo, o ambiente e o interesse público, estão acima dos interesses comerciais, por grandes que sejam e importantes as suas redes de influência.

Camaradas,

Face à alteração de circunstâncias, que fazer? O nosso trabalho no governo será determinante para o futuro do país. Mas, o papel do nosso partido é, igualmente, essencial. […] Nós temos necessidade de um partido que vigie e critique a nossa acção, dando prova de responsabilidade, espírito metódico, que julgue, tende em conta todos os parâmetros […] Espírito de equipa, bom senso, adaptabilidade, comprometimento, resistência, pensamento crítico, são as qualidades que vão permitir-nos inscrever a ideia do progresso na consciência colectiva, na história da nossa sociedade e do nosso país. E isso merece esforços e sacrifícios!


28 de Fevereiro de 2015

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 (1)  Ver o significado desta alusão na Wikipedia

Nota do tradutor: Esta tradução foi feita a partir da tradução para francês publicada AQUI  


quarta-feira, 18 de março de 2015


O texto que se segue, recebido por e-mail, explica muito bem o que é o Banco Central Europeu. No dia em que é inaugurada, oficialmente, a nova sede do BCE, que custou 1.300 milhões de euros, parece-nos útil relembrar o papel desta instituição europeia, chefiada por um mafioso do banco Goldman Sachs, Mario Draghi. Este indivíduo foi vice-presidente e director executivo, para a Europa, do Goldman Sachs, entre 2002 e 2005, e um dos responsáveis pela falsificação das contas públicas da Grécia, ao negociar com aquele país um swap para esconder a verdadeira dimensão do défice grego. O Goldman Sachs ganhou, apenas nesta transacção, 600 milhões de euros. Como se vê, o mafioso Draghi continua a encher os cofres dos maiores bancos privados, com a ajuda da restante família, que domina o poder político e financeiro, na Europa. Desta mafia, em Portugal, temos o governador do Banco de Portugal, na lista, para seguir as pisadas do "socialista" Vítor Constâncio, e todo o bando do governo, de onde alguns sairam já com bons prémios e outros(as), descaradamente, se oferecem, como putas baratas.


BCE? EXPLICA-ME COMO SE EU FOSSE MUITO BURRO...




O QUE É O BCE?
- O BCE é o banco central dos Estados da UE que pertencem à zona euro, como é o caso de Portugal.

E DONDE VEIO O DINHEIRO DO BCE?
- O dinheiro do BCE, ou seja o capital social, é dinheiro de nós todos, cidadãos da UE, na proporção da riqueza de cada país. Assim, à Alemanha correspondeu 20% do total. Os 17 países da UE que aderiram ao euro entraram no conjunto com 70% do capital social e os restantes 10 dos 27 Estados da UE contribuíram com 30%.

E É MUITO, ESSE DINHEIRO?
- O capital social era 5,8 mil milhões de euros, mas no fim do ano passado foi decidido fazer o 1º aumento de capital desde que há cerca de 12 anos o BCE foi criado, em três fases. No fim de 2010, no fim de 2011 e no fim de 2012 até elevar a 10,6 mil milhões o capital do banco.

ENTÃO, SE O BCE É O BANCO DESTES ESTADOS PODE EMPRESTAR DINHEIRO A PORTUGAL, OU NÃO? COMO QUALQUER BANCO PODE EMPRESTAR DINHEIRO A UM OU OUTRO DOS SEUS ACCIONISTAS?
- Não, não pode.

PORQUÊ?!
- Porquê? Porque... porque, bem... são as regras.

ENTÃO, A QUEM PODE O BCE EMPRESTAR DINHEIRO?
-A outros bancos, a bancos alemães, bancos franceses ou portugueses.

AH PERCEBO, ENTÂO PORTUGAL, OU A ALEMANHA, QUANDO PRECISA DE DINHEIRO EMPRESTADO NÃO VAI AO BCE, VAI AOS OUTROS BANCOS QUE POR SUA VEZ VÃO AO BCE.
- Pois.

MAS PARA QUÊ COMPLICAR? NÂO ERA MELHOR PORTUGAL OU A GRÉCIA OU A ALEMANHA IREM DIRECTAMENTE AO BCE?
- Bom... sim... quer dizer... em certo sentido... mas assim os banqueiros não ganhavam nada nesse negócio!

AGORA NÃO PERCEBI!!..
- Sim, os bancos precisam de ganhar alguma coisinha. O BCE de Maio a Dezembro de 2010 emprestou cerca de 72 mil milhões de euros a países do euro, a chamada dívida soberana, através de um conjunto de bancos, a 1%, e esse conjunto de bancos emprestaram ao Estado português e a outros Estados a 6 ou 7%.

MAS ISSO ASSIM É UM "NEGÓCIO DA CHINA"! SÓ PARA IREM A BRUXELAS BUSCAR O DINHEIRO!
- Não têm sequer de se deslocar a Bruxelas. A sede do BCE é na Alemanha, em Frankfurt. Neste exemplo, ganharam com o empréstimo a Portugal uns 3 ou 4 mil milhões de euros.
ISSO É UM VERDADEIRO ROUBO... COM ESSE DINHEIRO ESCUSAVA-SE ATÉ DE CORTAR NAS PENSÕES, NO SUBSÍDIO DE DESEMPREGO OU DE NOS TIRAREM PARTE DO 13º MÊS.

- As pessoas têm de perceber que os bancos têm de ganhar bem, senão como é que podiam pagar os dividendos aos accionistas e aqueles ordenados aos administradores que são gente muito especializada.

MAS QUEM É QUE MANDA NO BCE E PERMITE UM ESCÂNDALO DESTES?
- Mandam os governos dos países da zona euro. A Alemanha em primeiro lugar que é o país mais rico, a França, Portugal e os outros países.

ENTÃO, OS GOVERNOS DÃO O NOSSO DINHEIRO AO BCE PARA ELES EMPRESTAREM AOS BANCOS A 1%, PARA DEPOIS ESTES EMPRESTAREM A 5 E A 7% AOS GOVERNOS QUE SÃO DONOS DO BCE?

- Bom, não é bem assim. Como a Alemanha é rica e pode pagar bem as dívidas, os bancos levam só uns 3%. A nós ou à Grécia ou à Irlanda que estamos de corda na garganta e a quem é mais arriscado emprestar, é que levam juros a 6, a 7% ou mais.

ENTÃO NÓS SOMOS OS DONOS DO DINHEIRO E NÃO PODEMOS PEDIR AO NOSSO PRÓPRIO BANCO!...
- Nós, qual nós?! O país, Portugal ou a Alemanha, não é só composto por gente vulgar como nós. Não se queira comparar um borra-botas qualquer que ganha 400 ou 600 euros por mês ou um calaceiro que anda para aí desempregado, com um grande accionista que recebe 5 ou 10 milhões de dividendos por ano, ou com um administrador duma grande empresa ou de um banco que ganha, com os prémios a que tem direito, uns 50, 100, ou 200 mil euros por mês. Não se pode comparar.

MAS, E OS NOSSOS GOVERNOS ACEITAM UMA COISA DESSAS?
- Os nossos Governos... Por um lado, são, na maior parte, amigos dos banqueiros ou estão à espera dos seus favores, de um empregozito razoável quando lhes faltarem os votos.

MAS ENTÃO ELES NÃO ESTÃO LÁ ELEITOS POR NÓS?
- Em certo sentido, sim, é claro, mas depois... quem tem a massa é quem manda. É o que se vê nesta actual crise mundial, a maior de há um século, para cá. Essa coisa a que chamam sistema financeiro transformou o mundo da finança num casino mundial, como os casinos nunca tinham visto nem suspeitavam, e levou os EUA e a Europa à beira da ruína. É claro, essas pessoas importantes levaram o dinheiro para casa e deixaram a gente como nós, que tinha metido o dinheiro nos bancos e nos fundos, a ver navios. Os governos, então, nos EUA e na Europa, para evitar a ruína dos bancos tiveram de repor o dinheiro.

E ONDE O FORAM BUSCAR?
- Onde havia de ser!? Aos impostos, aos ordenados, às pensões. De onde havia de vir o dinheiro do Estado?...

MAS METERAM OS RESPONSÁVEIS NA CADEIA?
- Na cadeia? Que disparate! Então, se eles é que fizeram a coisa, engenharias financeiras sofisticadíssimas, só eles é que sabem aplicar o remédio, só eles é que podem arrumar a casa. É claro que alguns mais comprometidos, como Raymond McDaniel, que era o presidente da Moody's, uma dessas agências de rating que classificaram a credibilidade de Portugal para pagar a dívida como lixo e atiraram com o país ao tapete, foram... passados à reforma. Como McDaniel é uma pessoa importante, levou uma indemnização de 10 milhões de dólares a que tinha direito.

E ENTÃO COMO É? COMEMOS E CALAMOS?

- Isso já não é comigo, eu só estou a explicar...