O QUE ELES ESCONDEM

segunda-feira, 31 de março de 2014


 

O QUE ELES ESCONDEM SOBRE A VENEZUELA
 
Indicadores da esperança 

Desde 1998, 1,5 milhões de venezuelanos aprenderam a ler ao abrigo da Missão Robinson I. O analfabetismo foi erradicado, segundo a UNESCO, em 2005, e o número de crianças escolarizadas aumentou de 6 para 13 milhões (93,2 por cento). A missão Robinson II elevou a frequência do ensino secundário de 53,6 por cento para mais de 73 por cento, e as missões Ribas e Sucre permitiram que mais um milhão e 400 mil jovens frequentassem universidades, algumas das quais criadas de raíz.

A revolução bolivariana criou um sistema público de saúde, mais de 7800 centros de saúde equipados, e o total de médicos por habitante disparou 300 por cento. A missão Bairro Adentro levou a assistência médica e medicamentosa às favelas e às localidades mais desfavorecidas, realizando mais de meio milhão de consultas. 17 milhões de venezuelanos foram atendidos por médicos desde 1998, 1,7 milhões de vidas foram salvas e a taxa de mortalidade infantil reduziu-se em 49 por cento. A esperança média de vida passou dos 72 para os 74 anos.

A taxa de pobreza passou de 42,8 por cento para 26,5 por cento. A desnutrição infantil reduziu-se 40 por cento desde 1999 e a pobreza extrema caiu de 16,6 por cento para 7 por cento. Cinco milhões de crianças recebem alimentação gratuita nas escolas. A FAO reconhece que a Venezuela foi o país da América Latina e do Caríbe que mais contribuiu para a erradicação da fome. O índice GINI da Venezuela, que mede a desigualdade, é o mais baixo da região.

Em 1998, somente 387 mil reformados tinham direito a pensão. Hoje são 2,1 milhões, incluindo aqueles que nunca trabalharam, a quem é paga uma prestação igual a 60 por cento do Salário Mínimo Nacional. Mães solteiras e cidadãos com incapacidades recebem um subsídio social nunca inferior a 70 por cento do SMN.

A taxa de desemprego passou de 15,2 para 6,4 por cento. Foram criados 4 milhões de postos de trabalho. A jornada laboral passou para 36 horas semanais sem perda de remuneração e a liberdade de acção sindical e reivindicativa é uma realidade. O salário mínimo subiu mais de 2000 por cento e o número de trabalhadores que o auferem passou de 65 para 21 por cento.

Desde 1999 foram construídas mais de 700 mil casas e entregues mais de 3 milhões de hectares de terras a camponeses e membros de comunidades originárias. A Venezuela produzia 51 por cento dos alimentos que consumia, taxa que actualmente se situa nos 71 por cento. O consumo das famílias aumentou em 81 por cento desde 1999, e o de carne, em particular, cresceu 75 por cento. A Missão Alimentação criou uma cadeia de distribuição com 22 mil postos (Mercal, Casas de Alimentação e Rede PDVAL), que vendem géneros a preços subvencionados até 30 por cento

In Avante!, 20-3-2014

Venezuela: Derrotar o fascismo antes que seja demasiado tarde
por James Petras
 
O capitão Jose Guillen Araque, da Guarda Nacional Venezuelana, deu recentemente ao Presidente Maduro um livro sobre a ascensão do nazismo, alertando para que "o fascismo tem que ser derrotado antes que seja tarde demais"! Como retaliação ao seu aviso profético, o jovem capitão patriótico foi morto a tiro por um assassino, a soldo dos EUA, nas ruas de Marcay no estado de Aragua no dia 16 de Março de 2014. Isto elevou para 29 o número dos soldados e polícias venezuelanos mortos desde o levantamento fascista. A morte de um oficial destacado e patriótico numa rua principal duma capital provincial é mais uma indicação de que os fascistas venezuelanos estão activos, confiantes do seu apoio por Washington e por uma ampla faixa das classes alta e média venezuelanas. Constituem uma minoria do eleitorado e não têm ilusões quanto a conseguirem conquistar o poder por meios constitucionais e democráticos.

O capitão Guillen Araque avançou para lembrar ao Presidente Maduro que, em toda a história contemporânea, o caminho para o poder dos grupos nazis e fascistas totalitários foi atapetado com os cadáveres de democratas e social-democratas bem-intencionados que não utilizaram os seus poderes constitucionais para esmagar os inimigos da democracia
A história da ascensão do fascismo nas democracias

O termo "fascista" na Venezuela aplica-se com toda a propriedade aos violentos grupos políticos organizados que estão actualmente envolvidos em terrorismo de massas numa campanha para desestabilizar e derrubar o governo bolivariano democraticamente eleito. Os puristas académicos bem podem argumentar que os fascistas venezuelanos não têm a ideologia racista e nacionalista dos seus antecessores alemães, italianos, espanhóis e portugueses. Embora isso seja verdade, também é irrelevante. A marca venezuelana do fascismo está profundamente dependente do imperialismo dos EUA e seus aliados colombianos, e age como seu lacaio. Num certo sentido, porém, o racismo do fascismo venezuelano é dirigido contra as classes trabalhadoras e camponesas dos venezuelanos afro-ameríndios multirraciais – conforme demonstrado pelo seu racismo pernicioso contra o falecido Presidente Hugo Chavez. A ligação essencial com movimentos fascistas antigos encontra-se (1) na sua profunda hostilidade de classe para com a maioria popular; (2) no seu ódio visceral para com o Partido Socialista Chavista, que ganhou 18 das últimas 19 eleições; (3) no recurso à tomada armada do poder por uma minoria que age por conta das classes dominantes imperialistas, internas e americanas; (4) na sua intenção de destruir as próprias instituições e procedimentos democráticos que explora a fim de ganhar espaço político; (5) no seu direccionamento para as instituições da classe trabalhadora – conselhos comunais, associações de vizinhos, clínicas de saúde pública e dentais, escolas públicas, transportes, armazéns de produtos alimentares subsidiados, locais de reuniões políticas, associações de crédito público, organizações sindicais e cooperativas camponesas; (6) e no seu apoio aos bancos capitalistas, enormes latifúndios comerciais e empresas produtoras.

Na Alemanha, Itália, Espanha, França e Chile, os movimentos fascistas também começaram como pequenos grupos terroristas, que conquistaram o apoio financeiro da elite capitalista por causa da sua violência contra organizações da classe trabalhadora e instituições democráticas e faziam o seu recrutamento principalmente entre estudantes universitários da classe média, profissionais livres de elite (em especial médicos) e oficiais de altas patentes, no activo ou reformados – unidos na sua hostilidade contra a ordem democrática.

Tragicamente e também demasiadas vezes, os líderes democráticos, que funcionavam num governo constitucional, tiveram a tendência de considerar os fascistas apenas como "mais um partido", recusando-se ou não se mostrando dispostos a esmagar os assassinos armados, que aliavam o terrorismo nas ruas às eleições para conquistar o poder do estado. Os democratas constitucionalistas não viram ou não quiseram ver o braço político e civil dos nazis como fazendo parte de um inimigo totalitário orgânico; por isso, negociaram e discutiram infindavelmente com fascistas de elite que, entretanto, destruíram a economia enquanto os terroristas desfaziam os fundamentos políticos e sociais do estado democrático. Os democratas recusaram-se a enviar os seus muitos milhões de apoiantes de massa para fazer frente às hordas fascistas. Pior ainda, até se orgulharam de prender os seus apoiantes, polícias e soldados, que eram acusados de usar de 'força excessiva' na sua confrontação com os arruaceiros assassinos fascistas. Assim, os fascistas passaram com facilidade das ruas para o poder do estado. Os democratas eleitos preocuparam-se tanto com a crítica dos meios de comunicação internacionais e capitalistas, com a crítica da elite e com as organizações que se intitulavam dos 'direitos humanos', que facilitaram a conquista aos fascistas. O direito do povo à defesa armada da sua democracia foi subordinado ao pretexto de defender as 'normas democráticas' – normas que qualquer estado burguês sob ataque teria rejeitado! Os democratas constitucionais não reconheceram como a política tinha mudado drasticamente. Já não estavam a dialogar com uma oposição parlamentar para preparação das eleições seguintes; foram confrontados com terroristas armados e sabotadores empenhados numa luta armada e na conquista do poder político por qualquer meio – incluindo golpes de estado violentos.

No léxico do fascismo, a conciliação democrática é uma fraqueza, uma vulnerabilidade e um convite aberto à escalada da violência; os slogans de 'paz e amor' e de 'direitos humanos' servem para ser explorados; os pedidos de 'negociações' são preâmbulos para a rendição; e os 'acordos' prelúdios para a capitulação.

Para os terroristas, os políticos democráticos que alertam para uma 'ameaça do fascismo' enquanto agem como se estivessem metidos em 'escaramuças parlamentares', tornam-se um alvo aberto para ataques violentos.

Foi assim que os fascistas chegaram ao poder na Alemanha, em Itália e no Chile, enquanto os democratas, constitucionalistas até ao fim, se recusaram a armar os milhões de trabalhadores organizados que podiam ter sufocado os fascistas e salvo a democracia e preservado as suas vidas.

O fascismo na Venezuela: Uma ameaça mortal hoje

O alerta do herói mártir, o capitão Guillen Araque, sobre um iminente perigo fascista na Venezuela tem uma poderosa base substantiva. Enquanto a violência terrorista aberta vai e vem, a base estrutural subjacente do fascismo na economia e na sociedade mantém-se intacta. As organizações clandestinas, o financiamento e a organização do fluxo de armamento para os fascistas expectantes mantêm-se em funcionamento.

Os líderes políticos da oposição estão a jogar um jogo enganador, passando constantemente de formas legais de protesto para uma cumplicidade secreta com os terroristas armados. Não há qualquer dúvida de que em qualquer putsch fascista, os oligarcas políticos surgirão como os verdadeiros dirigentes – e partilharão o poder com os líderes das organizações fascistas. No entanto, a sua 'respeitabilidade' fornece cobertura política, as suas campanhas de 'direitos humanos' para libertar arruaceiros assassinos e incendiários encarcerados conquistam o 'apoio dos meios de comunicação internacionais, enquanto servem de 'intermediários' entre as organizações americanas de financiamento e o subterrâneo terrorista clandestino.

Quando se mede o âmbito e a profundidade do perigo fascista, é um erro contar apenas o número dos bombistas, incendiários e atiradores, sem incluir os grupos de apoio logístico, de reserva e periféricos e os apoiantes institucionais que alimentam os agentes no terreno.

Para 'derrotar o fascismo antes que seja tarde demais', o governo tem que avaliar realisticamente os recursos, a organização e o código operacional do comando fascista e rejeitar os anúncios abertamente tranquilizadores e 'optimistas' de alguns ministros, conselheiros e legisladores.

Primeiro, os fascistas não são apenas um pequeno bando que se limita a bater em panelas e a atacar trabalhadores municipais nos subúrbios da classe média-alta de Caracas em benefício dos meios de comunicação internacionais e corporativos. Os fascistas estão organizados numa base nacional; os seus membros estão activos por todo o país.

Visam instituições e infra-estruturas vitais em inúmeros locais estratégicos.

A sua estratégia é controlada centralmente, as suas operações são descentralizadas.

Os fascistas são uma força organizada; o seu financiamento, armamento e acções são planeados. As suas manifestações não são 'espontâneas', são acções organizadas localmente, que reagem à 'repressão' governamental tal como descrevem os meios de comunicação burgueses e imperialistas.

Os fascistas reúnem diversas correntes de grupos violentos, que frequentemente aliam profissionais livres de direita, motivados ideologicamente, grupos de contrabandistas de grande escala, e traficantes de drogas (em especial nas regiões fronteiriças), grupos paramilitares, mercenários e criminosos conhecidos. Estes são os 'fascistas da linha da frente', financiados pelos grandes especuladores de divisas, protegidos por funcionários locais eleitos, a quem os investidores imobiliários e os burocratas universitários de alto nível oferecem 'santuário'.

Os fascistas tanto são 'nacionais' como internacionais: Incluem assassinos pagos localmente e estudantes de famílias da classe alta; soldados paramilitares colombianos, mercenários profissionais de todos os tipos, 'assassinos a soldo' de organizações de 'segurança' e operacionais clandestinos das Forças Especiais dos EUA; e 'internacionalistas' fascistas recrutados em Miami, na América central, na América Latina e na Europa.

Os terroristas organizados têm dois santuários estratégicos para desencadear as suas operações violentas – Bogotá e Miami, onde líderes destacados, como o ex-Presidente Alvaro Uribe e líderes do Congresso dos EUA fornecem apoio político.

A convergência da actividade económica criminosa, altamente lucrativa, e do terrorismo político apresenta uma formidável ameaça dupla à estabilidade da economia venezuelana e à segurança do estado… Criminosos e terroristas encontram uma casa comum na tenda política dos EUA, destinada a derrubar o governo democrático da Venezuela e a esmagar a revolução bolivariana do povo venezuelano.

As interligações, a montante e a jusante, entre criminosos e terroristas dentro e fora do país, entre os políticos seniores de Washington, passadores de droga nas ruas e contrabandistas, alimentam os porta-vozes da elite internacional e proporcionam o músculo para os arruaceiros e os atiradores.

Os alvos terroristas não são escolhidos ao acaso; não são produto de cidadãos enfurecidos contra as desigualdades sociais e económicas. Os alvos do terrorismo, cuidadosamente seleccionados, são os programas estratégicos que sustentam a administração democrática; são sobretudo as instituições sociais de massas que formam a base do governo. Isso explica porque é que os terroristas lançam bombas nas clínicas de saúde dos pobres, nas escolas públicas e nos centros de ensino para adultos nos barrios, nos armazéns de alimentos subsidiados pelo estado e no sistema de transportes públicos. Fazem parte do vasto sistema de segurança social popular instituído pelo governo bolivariano. São os blocos fundamentais de construção que garantiram o apoio maciço de votantes em 18 das 19 eleições e o poder popular nas ruas e nas comunidades. Destruindo a infra-estrutura de bem-estar social, os terroristas esperam quebrar os elos sociais entre o povo e o governo.

Os terroristas visam o legítimo sistema de segurança nacional: nomeadamente, a polícia, a Guarda Nacional, os juízes, os promotores públicos e outras autoridades encarregadas da salvaguarda dos cidadãos. Os assassínios, os ataques violentos e as ameaças contra funcionários públicos, as bombas incendiárias em edifícios públicos e transportes públicos destinam-se a criar um clima de medo e demonstrar que o estado é fraco e incapaz de proteger a vida quotidiana dos seus cidadãos. Os terroristas querem projectar uma imagem de 'poder dual' apoderando-se de espaços públicos e bloqueando o comércio normal… e 'governando as ruas à ponta da espingarda'. Acima de tudo, os terroristas querem desmobilizar e constranger as contra-manifestações populares bloqueando as ruas e disparando contra activistas empenhados na actividade política em subúrbios disputados. Os terroristas sabem que podem contar com os seus aliados da oposição política 'legal' para lhes fornecerem uma base de massas através de manifestações públicas, que servem de escudo para ataques violentos e um pretexto para uma sabotagem maior.

Conclusão

O fascismo, nomeadamente o terrorismo armado dirigido para derrubar pela violência um governo democrático, é uma ameaça real e imediata na Venezuela. Os altos e baixos da luta diária na rua e os fogos-postos não são uma medida adequada desta ameaça. Como assinalámos, os apoios chave, estruturais e organizativos, subjacentes à ascensão e crescimento do fascismo são muito mais importantes. O desafio na Venezuela é cortar a base económica e política do fascismo. Infelizmente, até há pouco tempo o governo tem sido extremamente sensível à crítica hostil das elites além-mar e internas que se apressam a defender os fascistas – em nome da 'liberdade democrática'. O governo da Venezuela tem recursos enormes à sua disposição para erradicar a ameaça fascista. Mesmo que uma acção firme desencadeie o protesto dos amigos liberais além-mar, a maior parte dos defensores pró-democracia acredita que cabe ao governo agir contra esses funcionários da oposição que continuam a incitar a rebelião armada.

Mais recentemente, tem havido nítidos sinais de que o governo venezuelano, com o seu poderoso mandato democrático e constitucional, tem-se movimentado com consciência do perigo fascista e agirá com determinação para o afastar das ruas e nas suites.

A Assembleia Nacional aprovou a suspensão da imunidade de deputada na Assembleia Nacional, a congressista Corina Machado, para que ela possa ser acusada de incitação à violência. O Presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello apresentou provas documentais pormenorizadas do papel dela na organização e promoção de rebelião armada. Vários presidentes de municipalidades da oposição, activamente envolvidos na promoção e protecção de atiradores furtivos, arruaceiros e incendiários foram acusados e detidos.

A maioria dos venezuelanos confrontados com a maré crescente da violência fascista, apoia a punição destes altos funcionários envolvidos na sabotagem ou que a apoiam. Sem uma acção firme, as organizações de informações venezuelanas e o cidadão médio estão de acordo em que esses políticos da 'oposição' vão continuar a promover a violência e a proporcionar um santuário aos assassinos paramilitares.

O governo já percebeu que está envolvido numa verdadeira guerra, planeada por uma liderança centralizada e executada por operacionais descentralizados. Os líderes legislativos estão a ser confrontados com a psicologia política do fascismo, que interpreta as propostas de conciliação política e de brandura judicial do Presidente como uma fraqueza a ser explorada através de mais violência.

O avanço mais significativo para deter a ameaça fascista reside no reconhecimento pelo governo dos elos entre a elite parlamentar e empresarial e os terroristas fascistas: especuladores financeiros, traficantes e grandes açambarcadores de alimentos e de outros bens essenciais, todos eles fazem parte do mesmo ímpeto fascista para o poder, juntamente com os terroristas que lançam bombas em mercados públicos de alimentos e atacam os camiões que transportam alimentos para os subúrbios pobres. Um trabalhador revolucionário disse-me depois duma escaramuça de rua: "Por la razon y la fuerza no pasaran!" (Pela razão e pela força, serão derrotados)…
23/Março/2014

O original encontra-se em
www.globalresearch.ca/defeating-fascism-before-its-too-late/5374832 . Tradução de Margarida Ferreira.

Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/ .

 

sábado, 29 de março de 2014


Alguns jornais transcrevem, hoje, afirmações de um eurodeputado austríaco, dizendo que, na UE, “só os alemães e os austríacos” trabalham, pois, “somos os únicos que começam a trabalhar às nove horas em vez de às onze” e que, aos restantes, “não se pode levá-los a sério, porque eles têm todos um metro e sessenta”.
Estas bestialidades saíram da boca do cabeça de lista às eleições europeias pelo FPÖ (Partido da Liberdade (!!!)), de extrema-direita que, em Setembro último, arrecadou mais de 20% dos votos nas legislativas austríacas.

“... ninguém aceitaria uma Europa em que uns poupam para que outros possam gastar.” Estas palavras não são do dito eurodeputado, nem daqueles que condensaram este tipo de discurso nas siglas PIGS (porcos) ou GIPSI (ciganos), se juntarmos a Itália a Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha. Estas palavras foram ditas, no último fim-de-semana, pelo muito patriota primeiro-ministro de Portugal, Passos Coelho.
O discurso e prática deste indivíduo levou-nos já a alertar para a mentalidade de negreiro, assimilada na experiência de colonialista que teve em Angola. Henrique Custódio observa, na edição do Avante! desta semana, que a única organização social que Coelho conhece é a da roça colonial e Constança Cunha e Sá identificou aquela afirmação como própria de um partido de extrema-direita, por exemplo, alemão.

A gravidade destas evidências terão sido percebidas, certamente, por muitos outros. Mas, uns, a troco de um lugar bem pago, outros, por razões a  investigar, como é o caso de Cavaco Silva, vão-lhe dando cobertura e apoio.
Entretanto, pergunto-me se os trabalhadores portugueses, que sofrem a pobreza, a miséria e as desigualdades sociais crescentes, aceitarão ser os escravos negros desta escumalha doméstica e uma vara de porcos, obedientemente, a caminho do matadouro.

 

sábado, 22 de março de 2014

 
MEIOS DE COMUNICAÇÃO AO SERVIÇO DO FASCISMO
 
 
O jornal Expresso publicou esta fotografia, como sendo de um "sniper" dos que andaram a matar pessoas em Kiev:
 
 
 
 
 

A verdade, porém, é que este homem é Rostilav Stepanovich Vasiko, 1º Secretário do Partido Comunista da Ucrânia, em Lviv (Lvov, em russo).

No site deste Partido, Rostilav publicou o seguinte apelo:
Camaradas, eu sou Rostilav Stepanovich Vasiko, Primeiro Secretário do comité local do Partido Comunista da Ucrânia em Lvov. Os Banderistas [partidários do colaborador dos nazis Stepan Bandera] bateram-me muito em Kiev. Eles perseguiram a minha mãe, ameaçaram as minhas crianças de morte. Eles ameaçaram matar-me e matar a minha esposa. Ajudem-me a conseguir asilo político  noutro país. No dia 22 de fevereiro, das 11h às 23h, os facínoras da Euromaidan torturaram-me no Parque Mariinsk. Eles enfiaram agulhas sob as minhas unhas e bateram-me  com tacos e deram-me  murros. Perfuraram-me o pulmão direito, partiram-me  três costelas, o nariz e o crânio, onde tenho uma concussão de segundo grau. Tenho hematomas por todo o  corpo. Os Banderistas levaram-me  tudo,  documentos  e dinheiro”.

Estas outras fotografias, postas na net, mostram a bestialidade dos nazis quando apanharam Rostilav Stepanovich Vasiko.
 
 
 
O artigo de Vicenç Navarro elucida sobre o que se está a passar na Ucrânia e explica a razão do apoio da UE e EUA aos nazis ucranianos.

A grande maioria dos meios de comunicação, o Expresso incluído, faz o seu trabalho de serviçal do patrão, isto é, dos interesses do grande capital.

E, como Vicenç Navarro diz, é necessário instaurar o fascismo para que esses
interesses possam dispor à vontade da riqueza de um país.

Em Portugal, ainda não se chegou a esta brutalidade, mas quando os protestos populares começarem a pôr verdadeiramente em causa a ditadura em que já vivemos, o fascismo violento mostrará, igualmente, as suas garras.

Para já, está a lançar mão da desinformação, da mentira, da chantagem e do medo.

Serve-se dos meios de comunicação mas, também, de uns lacaizitos menores, pretendendo calar quem é incómodo, quer através do telefone, amedrontando quem julgam poder amedrontar, ou destruindo, com vírus, os computadores de quem diz a verdade.

Dois economistas, os professores Juan Torres López e Vicenç Navarro, de quem tenho todo o prazer em traduzir e publicar os artigos que escrevem, já viram, o primeiro, o Facebook bloqueado, não podendo introduzir novos conteúdos, e o outro, um ataque cibernético, altamente especializado, danificar e silenciar o seu blogue.

Contra este fascismo larvar, nos países do sul da Europa (onde a ditadura austeritária é mais feroz) e, abertamente, na Ucrânia, milhares de cidadãos estão a levantar-se e a reagir.



O QUE NÃO SE DIZ SOBRE A UCRÂNIA

Por Vicenç Navarro*

A grande maioria dos meios de comunicação está a apresentar a situação presente, na Ucrânia, como um levantamento popular contra um governo corrupto e sumamente impopular. Daí que esteja a gerar uma simpatia generalizada, favorecida por uns meios de comunicação que, ainda apegados à ideologia da Guerra Fria, vêem a Rússia como inimigo. E, dado a Rússia ter apoiado esse governo, enquanto os que se lhe opunham defendiam, sobretudo, a sua ligação à União Europeia, está explicada a leitura tão favorável da revolta popular contra o governo, que acabou por depô-lo, embora o dito governo tenha sido eleito democraticamente.
Não se duvida que a revolta contra o governo deposto foi uma revolta popular. Mas, a realidade é mais complexa do que os média anunciam. Efectivamente, não se tem dito (com excepção de Rafael Poch, correspondente de La Vanguardia, na Alemanha) que, hoje, a Ucrânia é o único país da Europa onde existem membros de um partido nazi com posições de grande poder. O partido nazi chama-se, paradoxalmente, Liberdade (Svoboda), e os seus membros, no governo, são o Ministro da Defesa (Igor Tenyukh), o vice-Primeiro-Ministro para os Assuntos Económicos (Aleksendr Sych, o ideólogo do partido que pressiona, entre outras medidas, para que se proíba o aborto), o Ministro da Agricultura, Igor Shvaika (um dos maiores latifundiários da Ucrânia), o Ministro da Ecologia (Andriy Moknyk, o contacto dos grupos nazis europ eus), o director do Conselho Nacional de Segurança, Andry Parubiy (e director da milícia militar do partido), o Procurador Geral, Oleh Makhnitsky, e o Ministro da Educação Serhiy Kvit, entre muitos outros. O poder deste partido condiciona, claramente, o novo governo da Ucrânia.

O dito partido foi fundado em 1991, apresentando-se como sucessor da Organização de Nacionalistas Ucranianos (ONU), fundada por um personagem, Stepan Bandera, peça-chave na história recente da Ucrânia. O partido Svoboda apresenta-o como o seu máximo inspirador. Foi definido como herói nacional, em 2010, pelo Presidente Victor Yushchenko, mais tarde substituído por Yanukovich, democraticamente eleito e Presidente do governo deposto, como resultado da revolta popular. Este último governo retirou as honras que haviam concedido a Bandera e é mais que provável que o novo governo lhas restitua.
Bandera, cuja homenagem mereceu o protesto do Tribunal Europeu de Justiça (European Court of Justice), foi o maior aliado, na Ucrânia, do regime nazi de Hitler, tendo dirigido dois batalhões que se integraram nas SS nazis alemãs, na luta contra a União Soviética, durante a 2ª Guerra Mundial (segundo o Centro Simon Wiesenthal, esses batalhões procederam à prisão de 4.000 judeus ucranianos, enviando-os para campos de concentração nazis, em Lviv, em Julho de 1941). Nos documentos da organização fundada e dirigida por Bandera, (a tal ONU) fala-se, explicitamente, da necessidade de limpar a raça, eliminando os judeus. O Professor de História da Tufts University Gary Leupp, no seu pormenorizado artigo Ukraine: The Sovereignty Argument, and the Real Problem of Fascism, CounterPunch, 10-3-2014, do qual extraio todos os dados que apresento nesta primeira parte do meu artigo, cita textos inteiros, mostrando o carácter nazi desta organização. Quando a Alemanha nazi invadiu a Ucrânia, Bandera declarou a sua independência, com um governo que  trabalhou “muito próximo e irmanado com o nacional-socialismo da Grande Alemanha, sob a liderança de Adolf Hitler, que está a formar uma nova Europa”.

O partido dominante, neste novo governo da Ucrânia, Svoboda, considera-se um orgulhosos herdeiro da tal ONU e pretende purificar a sociedade ucraniana, perseguindo violentamente os homossexuais, proibindo o aborto, estabelecendo uma ordem hierárquica e disciplinada, enfatizando a masculinidade e a parafrenália militar, apelando à expulsão da mafia judia moscovita e eliminando o comunismo, começando pela proibição do Partdo Comunista e a perseguição dos seus membros ou intelectuais afins. Pensa, também, eliminar, mais tarde, todos os partidos. Na realidade, o programa não pode ser mais claro. Em 2010, a web deste partido dizia “Para criar uma Ucrânia livre... teremos que acabar com o Parlamento e o parlamentarismo, proibir todos os partidos políticos, estatizar todos os meios de comunicação, purgar toda a Função Pública e executar (termo que utilizam) todos os membros dos partidos políticos anti-ucranianos”. O Congresso Mundial Judeu (World Jewish Congress) declarou este partido como partido neonazi, em Maio do ano passado.
Como é que um partido nazi está a governar, hoje, a Ucrânia?

As mobilizações populares que puseram fim ao governo eram, na sua maioria, mobilizações espontâneas, com fraca estrutura organizativa. Daí que um grupo, inclusive armado, com apoio político internacional, tenha podido, facilmente, tomar conta dessas mobilizações, com um papel importante nas etapas finais do movimento popular. E, por paradoxal que pareça, tanto os EUA como a UE tiveram um papel-chave nesta promoção. Na verdade, mais os EUA do que a UE. Foi, precisamente, Victoria Nuland, responsável pelo Departamento de Estado para os Assuntos Europeus e Euro-asiáticos (uma funcionária da ultra-direita dura, nomeada pelo vice-Presidente Cheney, durante a Administração Bush, e, surpreendentemente, mantida neste cargo pela Administração Obama) quem apoiou mais forte e abertamente o partido Svoboda, pois era o mais anti-russo dos grupos que existiam nas manifestações. Foi esta personagem que utilizou a famosa expressão “Que se foda a UE!” (“Fuck the EU”), insistindo em que o governo tinha que ter em conta o Svoboda, por muito má imagem que isso criasse. Na realidade, o dito partido, nas últimas eleições, teve apenas 10% dos votos. Porém, a sua enorme influência não vem do apoio popular, mas das maquinações levadas a cabo, com o governo dos Estados Unidos e o alemão a terem um papel central. Ambos desejam expandir a área de influência da NATO até ao Leste da Europa e vêem como favorável a isso a situação da Ucrãnia. O membro do Svoboda que é Ministro da Defesa é defensor da NATO e estudou no Pentágono, EUA.
Qual o futuro da Ucrânia?

Hoje, as elites governamentais dos dois lados do Atlântico Norte encontram-se numa situação conflitiva. De um lado, há o complexo militar industrial dos EUA, muito na defensiva (devido aos cortes notáveis na defesa militar do governo federal, resultado do descontentamento da população em relação às campanhas bélicas, que caracterizam a política exterior dos EUA) e pretende reavivar, por todos os meios, a Guerra Fria, para justificar a recuperação do seu papel central no sistema político-económico dos EUA.
Mas, esta estratégia choca, claramente, com os interesses financeiros e económicos da UE e, também, dos EUA. A Rússia é o terceiro sócio comercial da UE, depois dos EUA e da China, com uma troca comercial de mais de 500.000 milhões de dólares, em 2012 (Bob Dreyfuss, Capitalism Will Prevent a Cold War Over Ukraine, The Nation, 10-3-1014). Cerca de 75% de todos os investimentos estrangeiros, na Rússia, procedeu da UE, sendo a Rússia a maior fornecedora de gaz da UE. E o capital dos grandes oligarcas russos está em bancos europeus, a maior parte na City de Londres. Hoje, o grande capital financeiro e industrial não deseja uma Guerra Fria. Com efeito, grande parte do armamento da Rússia é construído na Suécia e em França (a última compra foi de helicópteros, 1.700 milhões de dólares). Daí que, por muito que se fale de penalizar a Rússia, é pouco provável que ocorra uma acçaõ militar. Não nos encontramos na primeira página da 3ª Guerra Mundial, mas isso não implica que não estejamos a ver o ressurgimento do nazismo, apoiado, paradoxalmente, por elites governantes, dos dois lados do Atlântico Norte, que representa a mão dura necessária para pôr em prática as políticas neoliberais, que o governo ucraniano realizará, a fim de facilitar a sua integração na UE.

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Original publicado no www.publico.es , em 18-3-2014

* Catedrático de Ciências Políticas e Sociais, na Universidade Pompeu Fabra, de Barcelona. Foi Catedrático de Economia Aplicada, na Universidade de Barcelona. É também professor de Políticas Públicas na The Johns Hopkins University (Baltimore, EUA), onde foi docente durante 35 anos. Dirige o programa Políticas Públicas e Sociais, patrocinado conjuntamente pela Universidade Pompeu Fabra e The Johns Hopkins University. Dirige, igualmente, o Observatório Social de Espanha.

 





 
 
 
 
 
 
 
 
 
 


sexta-feira, 21 de março de 2014


A AMERICANIZAÇÃO DA UNIÃO EUROPEIA

Por Vicenç Navarro*

Não há plena consciência, em amplos círculos progressistas do nosso país, de que o que se está a passar na Europa é a “americanização deste continente”, resultado da generalização de políticas públicas de claro recorte neoliberal, que os governos europeus estão a aplicar e a impor às suas populações, seguindo o mandato da Troika, isto é, do Fundo Monetário Internacional (FMI), da Comissão Europeia e do Banco Central Europeu. A Europa Ocidental era vista, internacionalmente, como a Europa social e a Europa democrática, ponto de referência das forças progressistas, que desejavam desenvolver o Estado de Bem-estar, através de processos democráticos. Esta visão tivera sempre uma componente de idealização. Contudo, havia uma componente de realidade, sobretudo quando era contrastada com a experiência nos EUA, onde o capitalismo se manifesta em toda a sua crueza, com escassa protecção social e uma democracia extremamente limitada. Pois bem, o que está a ocorrer, nesta Europa social e democrática, é a perda da sua identidade e peculiaridade, da sua dimensão social, diluindo o seu compromisso democrático.
Vejamos, em primeiro lugar, o que está a ocorrer nos EUA. O que aparece mais rapidamente é a enorme concentração dos rendimentos e riquezas num grupo muito, mas muito pequeno da população (que tira os seus rendimentos da propriedade do capital), à custa do empobrecimento de todos os demais, isto é, da maioria da população, que obtem os seus rendimentos do trabalho. Os indicadores disto são os seguintes:

1. 1% da população recebeu 95% de todo o crescimento da riqueza, gerada durante o período de 2009-2012.
2. 60% dos postos de trabalho que desapareceram durante a Grande Recessão eram bons postos de trabalho, isto é, bem pagos, ao passo que 59% dos novos postos de trabalho são postos de trabalho com salários baixos. Quer dizer, os postos de trabalho com salários baixos (e muito baixos) estão a substituir os postos de trabalho medianamente e/ou bem pagos. Em 2020, calcula-se que quase metade dos postos de trabalho terão salários baixos ou muito baixos.

3. Os lucros das grandes corporações alcançaram níveis recorde. As empresas financeiras foram as mais beneficiadas.
4. Os rendimentos do capital subiram, em percentagem do PIB, como nunca antes tinham subido, enquanto que os rendimentos do trabalho baixaram em percentagens nunca antes vistas.

5. Segundo os estudiosos mais respeitados no estudo dos rendimentos, nos EUA, Thomas Piketty e Emmanuel Saez, durante os últimos trinta anos (com início na era Reagan), a percentagem dos rendimentos que foi para o 1% mais rico dos EUA duplicou (e o que foi para o 0,1% triplicou).
6. Esta concentração dos rendimentos, que vêm do capital, num sector muito minoritário da população, traduziu-se num crescimento muito notável da sua influência política e mediática, que se traduziu em políticas públicas que o beneficiou enormemente. As áreas de especial influência foram as de política fiscal e as de desregulamentação do capital, conseguindo uma grande desregulamentação no manuseio e utilização deste capital.

7. A contribuir para esta descida maciça dos rendimentos derivados do trabalho está a estabilidade e descida do salário mínimo.
8. A relação entre o que, nos EUA, se chama Corporate America (o 1% da população) e a classe política alcançou níveis de cumplicidade nunca antes vistos nos EUA. Tal cumplicidade alcançou tal nível que a corrupção deixou de ser definida como tal. Na realidade, a compra de políticos por parte de empresas financeiras, industriais ou de serviços é legal e não é considerada corrupção. Desta maneira, um dos sistemas mais corruptos da OCDE aparece como um dos menos corruptos, pois a compra de políticos não é ilegal e é uma prática comum e generalizada nos EUA.

Esta é a situação, nos EUA, onde o domínio do capital é quase absoluto, situação que está a aparecer, também, na União Europeia e, muito especialmente, nos países do sul da Europa (incluindo a Espanha), onde as forças progressistas são débeis e estão constantemente divididas.

O original  encontra-se em www.vnavarro.org

* Catedrático de Ciências Políticas e Sociais, na Universidade Pompeu Fabra, de Barcelona. Foi Catedrático de Economia Aplicada, na Universidade de Barcelona. É também professor de Políticas Públicas na The Johns Hopkins University (Baltimore, EUA), onde foi docente durante 35 anos. Dirige o programa Políticas Públicas e Sociais, patrocinado conjuntamente pela Universidade Pompeu Fabra e The Johns Hopkins University. Dirige, igualmente, o Observatório Social de Espanha.

 

quarta-feira, 19 de março de 2014


A ESTRATÉGIA DOS ESTADOS UNIDOS CONTRA A VENEZUELA

Por Alfredo Serrano Mancilla*

Democracia que não vota no candidato da embaixada, para os Estados Unidos, é democracia a banir. O Norte nunca aceitou que Chávez fosse o escolhido pelos povos do Sul, nem admite tão-pouco que o chavismo sem Chávez continue, ainda, a ser a opção mais votada. O guião de golpe em câmara lenta, inspirado em Gene Sharp, mas com muita violência, está a ser eficaz, mas incapaz ainda de destituir a Revolução Democrática Bolivariana. Chávez alterou tanto as regras do campo de batalha – ideológica, política, institucional e internacional – que a guerra planificada e internacional encontra-se, agora, fora de jogo. Apesar das mortes e da violência nas ruas da Venezuela e do desgaste da imagem internacional de Maduro, a tentativa duradoura de golpe não alcança ainda o seu objectivo final. A violência concentrada unicamente nas zonas ricas da parte leste de Caracas não é suficiente para apresentar-se como força política alternativa, com amplo apoio popular. Este facto, sem dúvida, está a dividir, actualmente, a oposição. Capriles continua a afirmar que sem uma maioria não se pode ser presidente, enquanto Leopoldo López prefere travestir uma minoria em maioria. O primeiro aceita que, na Venezuela, haja uma nova identidade política, o chavismo; o segundo, ainda se empenha em eliminá-la. Mas, por detrás dessas divergências há uma coisa que os une a ambos: não conseguem identificar a maneira de disputar, ao chavismo, o sujeito Povo.
Experimentaram com golpe de estado e greve no sector petrolífero, no ano de 2002; ensaiaram múltiplas estratégias eleitorais, com variedade de candidatos; depois da morte de Chávez, apostaram, novamente, na via eleitoral, em Abril de 2013, mas também não pôde ser. Com uma intensa guerra económica para ganhar um falso plebiscito, nas autárquicas de Dezembro de 2013, perderam uma vez mais – e não por pouco, mas com 11 pontos de diferença. Esperar até 2016 por novas eleições, tal como determina a Constituição Bolivariana, é algo tão democrático que não encaixa nos seus planos anti-democráticos. Aos Estados Unidos acabou-se-lhes a paciência. O seu falso bipartidismo tem uma posição clara contra o povo venezuelano, depois das suas ineficazes tentativas de ingerência, através dos organismos internacionais. Nem as Nações Unidas, nem a OEA, lhes deu razão. Além disso, a mudança de época, pós-Chávez, dá prioridade ao Sul, como espaço político, para resolver os problemas do Sul. ALBA (1) e CELAC (2) apoiam, sem fissuras, o governo da Venezuela; UNASUR (3) rejeita a violência, secunda os esforços do Governo da Venezuela e, além disso, aposta numa “comissão integrada por Ministros dos Negócios Estrangeiros dos países da UNASUR, para que acompanhe, apoie e assessore um diálogo político amplo e construtivo, orientado para a recuperação da convivência pacífica na Venezuela, confirmando a Conferência Nacional de Paz (4) criada”. Esta vitória, no terreno internacional é fruto de Chávez, mas também da experiência de Maduro como ex-vice-presidente e do bom trabalho de Jaua (5), nas suas últimas deslocações ao estrangeiro.

O libreto clássico dos Estados Unidos torna-se exíguo perante este cenário desfavorável. Por isso, voltam àquilo que nunca deixaram de fazer: as ameaças. Há meses, Fitch e Moody’s falaram de colapso económico; o The Economist pressagiou o “fim da festa”; o Bank of America e merrill Lynch alarmaram com a “primavera venezuelana”. Há dias, foi o vice-Presidente Biden quem se somava a deitar lenha no fogo. Dpois, o Secretário de Estado Kerry amedrontou com sanções económicas, via OEA, embora Insulza, o seu Secretário-Geral, lhe tenha dito que não pode socorrer-se desta opção porque “o caso venezuelano não põe em risco a democracia nem a segurança do continente americano”. O último, por agora, é Kelly, o Chefe do Comando Sul do Exército dos Estados Unidos, quem, perante a comissão de Defesa do Senado, afirma que que a Venezuela “vai precipitar-se numa catástrofe económica” e, mais, fala do perigoso rumor sobre “a divisão no seio das Forças Armadas venezuelanas”.
A transição geoeconómica para um mundo multipolar irrita muito a maior potência militar do mundo. No ano de 2014, os Estados Unidos pretendem recuperar, doa a quem doer, a sua hegemonia unipolar. A beligerãncia contra os países emergentes, mediante expectativas falsas de estagnação e a guerra na Ucrânia são provas disso. A Venezuela é um outro objectivo mais para a diplomacia dos Estados Unidos, na sua estratégia de domínio global que, agora, exige uma guerra civil para derrotar o chavismo, à força. E por que não, depois, voltar a controlar o petróleo e, consequentemente, o continente latino-americano.


O original encontra-se em www.publico.es , 17-3-2014
* Director do Centro Estratégico Latino-americano Geopolítico. Professor de Economia na Universidade Pablo Olavide, de Sevilha.

Notas do tradutor:
(1) ALBA – Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América. Tratado intergovernamental para a integração social, política e económica de vários países da América latina e Caraíbas. Substituiu o ALCA, dominado pelos EUA.

(2) CELAC – Comunidade de Estados Latino-americanos e das Caraíbas. Organismo para a integração e desenvolvimento.

(3) UNASUR – União das Nações da América do Sul. Organização para a integração sul-americana, nos sectores da energia, educação, ambiente, infra-estruturas, segurança e democracia.

(4) Conferência, convocada por Nicolás Maduro, de todos os sectores políticos e sociais, para discutir a situação do país.

(5) Elías Jaua Milano – Ministro dos Negócios Estrangeiros da Venezuela. 

 

 

 

sábado, 15 de março de 2014

Hoje, dia 15 de Março de 2014, em Caracas, Venezuela, uma manifestação de repúdio pelos actos de violência e tentativa de golpe de estado juntou milhares e milhares de civis e militares.
Estas são imagens dessa manisfestação, que saiu da Plaza Los Símbolos para o Paseo Los Próceres:





 
 
 Estas fotos, assim como vídeos desta enorme manifestação podem ser vistos no site da Agência de Notícias Venezuelana (www.avn.info), na Telesur (www.telesurtv.net) ou em www.correodelorinoco.gob.ve .
 
Hoje, dia 15 de Março de 2014, um enviado especial da RTP a Caracas, Venezuela, em directo para o telejornal das 20 horas, precisamente no momento em que decorria a manifestação acima referida, fez a seguinte reportagem:
 
 
Este é um exemplo de manipulação da opinião pública, feita por um "jornalista" sem escrúpulos e sem a mais mínima ética profissional. E está, desde este momento, a ser cúmplice de uma tentativa de golpe de estado contra um governo democraticamente eleito e com apoio da grande maioria da população.
 
Sabemos que a Venezuela tem as maiores reservas de petróleo do mundo; que um navio petroleiro leva 40-45 dias a fazer o percurso entre os países produtores de petróleo do Golfo Pérsico e os Estados Unidos e apenas 4 dias entre a Venezuela e esse mesmo país.
 
Percebe-se, pois, a campanha orquestrada e financiada pelos EUA contra o governo venezuelano. Não se percebe como uma televisão pública, com o nosso dinheiro, faz este frete aos EUA (e também à GALP?) e um "jornalista" se presta, desta forma, a aviltar uma profissão, que deveria estar ao serviço da verdade.
 
 Outra justificação que se pode encontrar para a ocultação das imagens desta manifestação é a de que são um muito mau exemplo para Portugal, onde, em tempos, houve, igualmente, uma aliança do povo com as Forças Armadas, podendo, assim, povo e Forças Armadas lembrarem-se que isso é possível e até muito desejável.

quinta-feira, 13 de março de 2014

FALSIDADES DO PENSAMENTO ECONÓMICO DOMINANTE

Por Vicenç Navarro*

Permita-me, sr. Leitor, que lhe fale como se estivéssemos a tomar um café, explicando-lhe algumas das maiores falsidades que lhe apresentam, diariamente, na imprensa de economia. Deveria estar consciente de que grande parte dos argumentos que são apresentados, nos maiores meios de informação e persuasão económicos do país, para justificar as políticas públicas que estão a ser levadas a cabo, são posições claramente ideológicas, que não têm sustentação com base na evidência científica existente. Citar-lhe-ei algumas das mais importantes, demonstrando-lhe que os dados contradizem o que é dito. E também tentarei explicar-lhe por que razão se continua a repetir estas falsidades, apesar de a evidência científica as pôr em causa, e com que fim as apresentam, diariamente, a si e ao público.
Comecemos por uma das falsidades mais importantes, que é a afirmação de que os cortes da despesa pública nos serviços públicos do Estado de Bem-estar, como a Saúde, Educação, serviços domiciliários, habitação social e outros (que estão perjudicando enormemente o bem-estar social e a qualidade de vida das classes populares) são necessários para que não aumente o défice público. E perguntará o senhor: “e por que é tão mau que cresça o défice público?” E os reprodutores da sabedoria convencional responder-lhe-ão que a causa de se ter que reduzir o défice público é o crescimento deste défice determinar o crescimento da dívida pública, que é o que o Estado tem que pagar (predominantemente à banca, que tem algo mais de metade da dívida pública, em Espanha) por ter pedido emprestado dinheiro à banca, para cobrir o buraco criado pelo défice público. Sublinha-se, assim, que a dívida pública (que se considera uma carga para as gerações futuras, que terão de a pagar) não pode continuar a crescer, devendo ser reduzida, cortando o défice público, o que quer dizer, para eles, cortar e cortar no Estado de Bem-estar, até acabar com ele, que é o que está a acontecer em Espanha.
Os argumentos utilizados para justificar os cortes não são credíveis.
O problema desta posição é que os dados (que o saber convencional oculta ou ignora) mostram precisamente o contrário. Os cortes são enormes (nunca, durante a época democrática, se tinha visto uns cortes tão grandes) e, em contrapartida, a dívida pública continua e continua a crescer. Repare no que está a passar-se em espanha, por exemplo, com a saúde pública, um dos serviços públicos mais importantes e melhor valorados pela população. A despesa pública com a Saúde, em percentagem do PIB, foi reduzida à volta de 3,5%, no período de 2009-2011 (quando deveria ter crescido 7,7% durante o mesmo período, para chegar à despesa média dos países com um desenvolvimento económico semelhante ao nosso) e o défice público diminuiu, passando de 11,1% do PIB, em 2009, para 10,6%, em 2012 e, pelo contrário, a dívida pública não baixou, mas continuou a aumentar, passando de 36% do PIB, em 2007, para 86%, em 2012. Na realidade, a causa de a dívida pública estar a aumentar deve-se, em parte, aos cortes na despesa pública.
Como pode ser isso? – perguntará o senhor. Pois a resposta é fácil. A descida da despesa pública implica a diminuição da procura pública e, consequentemente, do crescimento e da actividade económica, receben do o Estado menos receitas por via dos impostos e taxas. E, recebendo menos impostos, o Estado tem de endividar-se mais, continuando a dívida pública a crescer. É escusado dizer que o maior ou menor impacto, estimulante da despesa pública, depende do tipo de despesa. Mas, estão a cortar nos serviços públicos do Estado de Bem-estar, que são os que criam mais emprego e estão entre os que estimulam mais a economia. Permita-me que repita esta explicação, dada a sua enorme importância.
Quando o Estado (tanto o central, como o autonómico e local) aumenta a despesa pública, aumenta a procura de produtos e serviços e, com isso, o estímulo económico. Quando baixa, diminui a procura e desce o crescimento económico, recebendo o Estado menos fundos. É o que, em terminologia macroeconómica, se conhece como efeito multiplicador da despesa pública. O investimento e os gastos públicos facilitam a actividade económica, o que é negado pelos economistas neoliberais (que são promovidos na grande maioria dos meios de maior informação e persuasão do país) e isso apesar da enorme evidência publicada na literatura científica (ver o meu livro Neoliberalismo e Estado de Bem-estar, Ariel Económica, 1997).
Outra farsa: gastamos mais do que temos.
O mesmo saber convencional está a dizer-lhe, também, que a crise se deve a termos estado a gastar demasiado, muito acima das nossas possiblilidades. Daí a necessidade de apertar o cinto (o que quer dizer cortar, cortar e cortar na despesa pública). Em regra geral, esta posição anda acompanhada com a afirmação de que o Estado tem de comportar-se como as famílias, isto é, “em nenhum momento se pode gastar mais do que se recebe”. O Presidente Rajoy e a Srª Merkel repetiram esta frase milhares de vezes.
Esta frase tem uma componente de hipocrisia e outra de falsidade. Deixe-me explicar-lhe o porquê de cada uma. Eu não sei como o senhor leitor comprou o seu carro. Mas eu, como a grande maioria dos espanhóis, comprei o carro a prestações, isto é, a crédito. Todas as famílias se endividaram e assim funciona o orçamento familiar. Pagamos as nossas dívidas à medida que vamos tendo recursos, que, para a maioria dos espanhóis, vêm do trabalho. E daí deriva o problema actual. Não é que as pessoas tenham andado a gastar acima das suas possibilidades, o seu rendimento e as suas condições de trabalho é que se têm deteriorado mais e mais, sem que a população seja responsável por isso. Na realidade, os responsáveis de que isso aconteça são os mesmos que lhe estão a dizer que têm que cortar nos serviços públicos do Estado de Bem-estar e também baixar os salários. E, agora, têm a ousadia (para o dizer de forma suave) de afirmar que a culpa têmo-la o senhor e eu, porque andámos a gastar mais e mais. Eu não sei o que se passou consigo, mas garanto-lhe que a maioria das famílias não andaram a comprar e a acumular bens como loucos. Muito pelo contrário.
Existe a mesma hipocrisia no argumento de que o Estado gastou demasiado. Repare o senhor leitor que o Estado espanhol esteve a gastar, não muito mais, mas muito menos do que gastaram outros países de semelhante nível de desenvolvimento económico. Antes da crise, a despesa pública representava apenas 39% do PIB, quando a média da UE a 15 era de 46% do PIB. Já então o Estado deveria ter gastado, como mínimo, 66.000 milhões de euros mais, em despesa pública social, para gastar o que correspondia ao seu nível de riqueza. Não é verdade que, quer as famílias, quer o Estado, tenham gastado mais do que deveriam. E, apesar disto, continuarão a dizer-lhe que a culpa é da maioria da população, que gastou demasiado e, agora, tem que apertar o cinto.
O senhor trá, também, ouvido dizer que estes sacrifícios (os cortes) têm de ser feitos “par salvar o euro”.
De novo, esta cantilena de que “estes cortes são necessários para salvar o euro” reproduz-se constantemente. Pois bem, ao contrário do que constantemente se anuncia, o euro nunca esteve em perigo. Nem tão-pouco há a mais pequena possibilidade de alguns países periféricos (os PIGS, que incluem Espanha) da eurozona serem expulsos do euro, Efectivamente, um dos problemas, dos muitos que estes países têm, é o de o euro estar demasiado forte e são. A sua cotação tem estado sempre a subir acima da do dólar e o seu elevado valor dificulta a economia dos países periféricos da eurozona. E outro problema é o de o capital financeiro alemão lhes ter emprestado, com imensos lucros, 700.000 milhões de euros e, agora, quer que os países periféricos lhos devolvam. Se algum deles deixasse o euro, a banca alemã poderia colapsar.Esta banca (cuja influência é enorme) não quer nem ouvir falar de que estes países devedores saíam do euro. Asseguro-lhe que é a última coisa que querem. Esta observação, que é óbvia, não é um argumento, por certo, a favor da permanência no euro. Na realidade, creio que os países PIGS deveriam ameaçar sair do euro. Mas, é absurdo o argumento utilizado de que a Espanha deva ver reduzido, ainda mais, o tempo da consulta médica para salvar o euro (que é o código para dizer “salvar a banca alemã e devolver-lhe o dinheiro que emprestou, com enormes lucros).
Estas são as falácias que, constantemente, lhe são expostas. Mas asseguro-lhe que lhe são apresentadas sem que haja qualquer evidência que as avale. Pura e simplesmente.
A causa dos cortes.
E o senhor perguntará: “por que é que se fazem, então, os cortes?” E a resposta é fácil, embora raramente a veja naqueles meios de informação e persuasão. É aquilo a que se costumava chamar “luta de classes”, mas, agora, aqueles meios não utilizam esta expressão por a considerarem “antiquada”, “ideológica”, “demagógica”, ou qualquer epíteto que utilizam para mostrar a repulsa e o desejo de marginalizar os que vêem a realidade, segundo um critério distinto e, inclusivamente, oposto ao que defende o saber convencional do país.
Mas, por muito que a queiram ocultar, essa luta existe. É a luta (o que o meu amigo Naom Chomsky chama, inclusive, guerra de classes (como expõe na sua introdução ao livro Hay alternativas. Propuestas para crear empleo y bienestar social en España, de Juan Torres, Alberto Garzón e eu) de uma minoria (os proprietários e gestores do capital, isto é, da propriedade que gera rendas) contra a maioria da população (que obtem os seus rendimentos do trabalho). Não é necessário dizer que esta luta de classes tem variado, segundo o período em que se vive. Era diferente na época dos nossos pais e avós daquela que está a ocorrer agora. Na realidade, agora é, inclusive, mais ampla, pois não é só das minorias, que controlam e gerem o capital, contra a classe trabalhadora (que continua a existir), mas inclui, também, grandes sectores da classe média, formando o que se chama as classes populares, juntamente com a classe trabalhadora. Esta minoria é enormemente poderosa, controla a maioria dos meios de informação e persuasão e tem, também, uma grande influência sobre a classe política. Este grupo minoritário deseja que se baixem os salários, que a classe trabalhadora esteja atemorizada (o desemprego desempenha essa função) e que perca os direitos laborais e sociais. E está a reduzir os serviços públicos como parte desta estratégia para debilitar esses direitos. É, também, um factor importante a privatização dos serviços públicos, que é a consequência dos cortes, e que permite a entrada do grande capital (e, muito particularmente, do capital financeiro-banca e das companhias de seguros) nestes sectores, aumentando os seus ganhos. O senhor terá lido como, em Espanha, as companhias privadas de seguros da saúde estão a expandir-se como nunca antes o tinham conseguido. E muitas das empresas financeiras de alto risco (que quer dizer altamente especulativas) estão hoje a controlar grandes instituições de saúde, no país, graças às políticas privatizadoras e de cortes, que os governos estão a realizar, justificando tudo isto com a farsa (e, creia-me, não há outra maneira de o dizer) de que têm de o fazer para reduzir o défice público e a dívida pública.
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Texto original publicado em www.publico.es , na coluna Dominio Público, em 30-1-2014
* Catedrático de Ciências Políticas e Sociais, na Universidade Pompeu Fabra, de Barcelona. Foi Catedrático de Economia Aplicada, na Universidade de Barcelona. É também professor de Políticas Públicas na The Johns Hopkins University (Baltimore, EUA), onde foi docente durante 35 anos. Dirige o programa Políticas Públicas e Sociais, patrocinado conjuntamente pela Universidade Pompeu Fabra e The Johns Hopkins University. Dirige, igualmente, o Observatório Social de Espanha.